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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Cap 11 - 1,2,3 "A Princesa Roubada"


Capítulo XI.

“Eu não vejo tantas trançados em ouro desde a última vez que o príncipe regente inspecionou as tropas”, Thur murmurou. “E que cavalo magnífico!”.
“Eu queria que ele caísse e quebrasse o pescoço! Nicky!”, Lua procurou. “Onde está Nicky? Ele não está do lado de fora, não é? Se o Conde Anton o vir—”
“Ele e Jim estão na cozinha, tomando o café”, a Sra. Barrow assegurou.
“Vá buscá-lo de uma vez! Nós devemos partir, imediatamente!”.
Thur a segurou pelo braço. “Lua, você não pode correr dele agora. Se o fizer, ele apenas irá atropelá-la com aquele cavalo grande”. Ele olhou de relance para a Sra. Barrow. “Mas vá buscar ambos os meninos aqui”.
Lua tentou se soltar do aperto. “Mas se ele nos achar, irá nos mandar de volta e então—”
“Eu não o deixarei levá-la para lugar nenhum”, Thur a assegurou. Ela não pareceu muito segura. Ele segurou as mãos dela firmemente, acariciando os dedos dela com os polegares, e acrescentou, “ele dificilmente poderá sequestrá-la com o magistrado local assistindo”.
Ela fez uma carranca. “Por que ele trouxe um magistrado? Deve pensar que isso dará a ele um pouco de vantagem”. Ela olhou para ele com um pressentimento. “Não gosto nada disto”.
“Nem eu”. Ele olhou de relance para fora da janela. “Um magistrado implica alguma manobra legal”.
“Nicky! Ele quer a custódia legal de Nicky”.
Thur não estava seguro. “Como ele podia ganhar custódia legal de seu filho antes de você?”.
“Porque a lei de Zindarian é bárbara, é por isso. Uma mulher não tem voz nenhuma na lei. Se o herdeiro é uma criança, um homem adulto mais velho se torna o cabeça da família até que a criança se torne um adulto. Atualmente o cabeça da família é Tio Otto, mas se ele morrer—e ele é um homem idoso—o Conde Anton se torna o cabeça até que Nicky faça dezoito anos”.
Ela apertou os antebraços dele. “E se o Tio Otto estiver morto? Anton terá rédea solta”.
Thur olhava fixamente para ela sombriamente. “É um blefe. Ele deve suspeitar que você esteja aqui, mas ele não pode saber. Vá com Nicky lá para cima e se esconda lá. Eu me livrarei do Conde Anton e o magistrado dele”.
“Dê-me uma arma de fogo, por via das dúvidas. Aquelas pistolas de duelo”.
Ele apertou a mão dela. “Sem tempo, elas estão lá fora no curricle. Além disso, o que é necessário aqui é estratégia, e não força”.
A Sra. Barrow e os meninos chegaram, e rapidamente Thur explicou seus papéis. Todos pareceram atordoados.
“Nunca vai dar certo”, Lua murmurou.
“Confie em mim”, ele disse suavemente. “Manterei você e Nicky seguros. Agora vá!”, enquanto ele falava, a campainha dianteira tocou imperiosamente. Ela olhou de relance para ele e fugiu com Nicky para os degraus acima.
Os olhos de Jim se iluminaram com excitação. “Nós estamos enganando os preventivos, Sr. Thur?”.
“Algo assim”, Thur disse a ele.
Todo mundo desapareceu para tomar seus lugares. A Sra. Barrow olhou para ele. “Eles nunca são os preventivos, Sr. Thur”.
“Não, mas o homem com o magistrado é O responsável pela queima total do chalé da senhorita Melanie. Ele está perseguindo a princesa e Nicky, e quer prejudicá-los”.
A Sra. Barrow se eriçou. “O vilão. Então você o fará ser preso então, senhor?”.
Thur agitou a cabeça. “Nós não temos nenhuma prova. E eu não tenho nenhuma dúvida de que ele tem documentos diplomáticos para assegurar de que não possa ser tocado pela lei inglesa”.
A campainha tocou novamente. “Devo admitir essa barata, então?”.
“Sim. Diga a ele que estou indisponível”. Thur correu para os degraus acima enquanto a Sra. Barrow marchava para a porta da frente. Ele esperou no vão da escada e escutou a Sra. Barrow atender a porta e explicar que o dono da casa estava indisponível.
“Indisponível! Extremamente conveniente”, uma voz lisa com um lânguido sotaque estrangeiro disse. Thur reconheceu a voz. A última vez que o tinha escutado foi quando ela estava ligada a um par de botas chutando-o.
“Eu realmente devo insistir”, o magistrado declarou. “O Conde Anton, príncipe regente de Zindaria, fez várias acusações muito sérias contra o Capitão Aguiar”.
Príncipe regente, Thur pensou. O tio Otto realmente devia estar morto.
“Deve ser realmente sério para perturbar o filho de um conde inglês em Sua Própria Casa!”, a Sra. Barrow devolveu de maneira agressiva.
O magistrado limpou a garganta desconfortavelmente. “O Conde Anton reivindica que o jovem príncipe herdeiro de seu país foi sequestrado e, hm—”
“O quê?”.
“Ele reivindica que o príncipe herdeiro está cativo aqui”.
“Aqui?”, a Sra. Barrow repetiu alto com surpresa. Houve uma pausa, então ela ergueu a voz. “Ei, Barrow, o escudeiro aqui está dizendo que nós temos um príncipe herdeiro escondido aqui em algum lugar. Você viu um?”.
“Nem, não aqui na cozinha”, a voz do Sr. Barrow veio flutuando de trás dela.
Thur sorria amplamente.
“Chega dessa tolice”, o Conde Anton passou através da Sra. Barrow. “Nós ‘procuraremos’ na casa!”.
“Você não fará nada disso!”, a Sra. Barrow disse a ele. “Sir Walter, você vai deixar estes estrangeiros entrarem desse jeito na casa de um cavalheiro inglês? E vocês todos—para trás!”, ela acrescentou para as companhias.
Thur decidiu que estava na hora de fazer sua entrada. Ele desceu os degraus. “O que diabos é essa comoção?”, ele disse lentamente. “Sra. Barrow, disse que não queria ser transtornado”.
Vendo o magistrado, ele passou pelas desculpas dela, dizendo, “Ah, Sir Walter, excelente. Você já pegou os bandidos?”.
Sir Walter pareceu surpreso. “Bandidos?”, ele repetiu cautelosamente. “Quais bandidos?”.
“Aqueles que aterrorizaram a senhorita Melanie e queimaram totalmente o seu chalé”.
As sobrancelhas do escudeiro ergueram-se de surpresa e Thur concordou com a cabeça. “Apavorante, não é? Independentemente de qual país seja, quando uma mulher solitária é aterrorizada por assassinos e sua casa de campo incendiada”. Ele olhou de relance desdenhosamente para o Conde Anton e acrescentou, “Quem é o seu amigo, Sir Walter? Eu não reconheço o uniforme. Não é inglês, espero. Seguramente nem mesmo Prinny projetaria tão ridicul—tal uniforme”.
O conde o considerou com expressão de desprezo altivo. Ele era realmente um belo diabo, Thur pensou, mas era uma beleza que repelia. Os olhos eram estranhos, como se não tivessem nenhuma cor. Eles chamejavam e ele fez a Thur uma reverência severa, militar. “Eu, sir, sou o Conde Anton, príncipe regente de Zindaria, e exijo que você solte a ‘prrrincesa’ de Zindaria e seu filho, o príncipe herdeiro Nikolai”.
Thur olhou fixamente para ele por um longo momento e então girou para o escudeiro. “Você tem alguma ideia do que ele está falando?”.
O rosto corado do escudeiro ficou muito mais vermelho. “Capitão Aguiar, senhor”, ele começou com embaraço. “O Conde insiste que estas pessoas estão sendo mantidas aqui. Ele carrega cartas de autoridade de seu governo—”
“Eu sou o governo do meu país”, o Conde Anton falou de repente. Ele fitou com olhos estreitos as marcas de feridas de Thur e lançou os olhos à mão dele com a marca do solado de sua bota.
“Talvez, mas aqui é a Inglaterra. Você não tem nenhuma autoridade aqui”. Thur deu a ele um sorriso frio.
Os lábios do Conde afinaram. “Eu exijo que você—”
“Suas demandas não significam nada aqui!”, a voz de Thur o atravessou como um chicote. “Não aceito machões entrarem na minha casa e tentarem mandar em mim”.
Sir Walter fez gestos para aplacar a situação. “Cavalheiros, cavalheiros, estou certo de que não há necessidade desta hostilidade. Conde Anton, o Capitão Aguiar é um cavalheiro que conheço, filho do conde de Alverleigh e um bom oficial, mencionado várias vezes em despachos. Como eu o assegurei mais cedo, ele possivelmente não pode ter qualquer coisa relacionada ao sequestro do seu príncipe herdeiro”. Ele deu um olhar de apelação a Thur. “Capitão Aguiar, tudo pode ser esclarecido em um momento se você apenas nos permitir vasculhar a casa…”
Thur fixou nele um tipo de olhar que podia fazer uma tropa de soldados mais severos penderam as cabeças. “Vasculhar a minha casa?”.
O chefe do distrito parecia desconfortável, mas se manteve firme. “É uma acusação sombria, senhor, uma com implicações com o governo. Estou certo de que é um engano, mas seria melhor verificar para podermos esclarecer”.
O homem estava envergonhado, Thur viu. Ele já estava meio certo de que tinha sido feito de tolo.
Thur deu um aceno curto com a cabeça. “Muito bem, explique”. Ele cruzou os braços e esperou.
“Nós estamos perdendo tempo”, o Conde começou.
Thur atirou um olhar duro a ele. “Eu posso acabar expulsando o teu rabo daqui”.
“Capitão Aguiar, Conde, por gentileza”, Sir Walter disse. “O Conde recebeu relatórios de que nos últimos dois dias você teve uma mulher estranha e um menino pequeno vivendo aqui”.
“Ele recebeu, é?”, Thur disse. “Por que diabos é da conta dele quem eu tenho aqui?”.
“Você tem! Admita!”, o Conde rosnou.
Thur deu a ele um olhar fixo e frígido.
“Capitão Aguiar, por favor”, o escudeiro implorou.
Thur encolheu os ombros. “Há uma senhora e um menino ficando aqui, Sir Walter, entretanto se aquele menino é o príncipe herdeiro de qualquer lugar, ficaria surpreso. Ainda assim, suponho que possa ter sido roubado por ciganos ao nascer…”
“Ele foi roubado por você!”.
Thur descruzou os braços. “Você está se tornando excessivamente tedioso, meu homem. Você precisa de uma boa surra e lição de modos”.
O escudeiro pisou entre eles. “Cavalheiros, cavalheiros, por favor. Capitão Aguiar, se eu puder falar com esta senhora, tudo poderá ser resolvido”.
Thur considerou. “Muito bem, mas você—” ele apontou um dedo para o Conde. “—Se comporte. Não gostaria de expor nenhuma dama ao seu comportamento rude”.
Ele os levou à sala de visitas, abriu a porta, e disse, “Vê, senhor Walter? Não há nenhum príncipe ou princesa roubados”.
O Conde Anton passou por eles. “Aha!”, ele exclamou em triunfo e apontou para a mulher sentada na frente do fogo com as costas para eles. “Ela está ali!”.
Mel girou com as sobrancelhas erguidas. “Desculpe, não entendi”, ela disse com desaprovação gelada. Ela olhou de relance para Thur, para Sir Walter e para o Conde. “O que quer dizer esta intrusão?”.
Thur girou para o escudeiro. “Esta é a senhorita Melanie, cuja casa foi totalmente queimada ontem. Eu ofereci refúgio a ela, aqui, indefinidamente”.
O escudeiro se curvou. “Senhorita Melanie, ofereço minhas condolências sinceras pela sua perda. Foi uma coisa chocante—”
“Uma coisa chocante realmente quando a casa foi queimada abaixo”. Mel olhou fixa e ferozmente para o Conde. “Meu conforto exclusivo está no conhecimento do fato de que o perpetrador queimará no inferno!”.
O Conde foi na direção dela de maneira ameaçadora. Thur entrou entre eles. “Mais um passo…”, ele disse com voz glacial.
Chay se moveu e ficou de pé ao lado da Senhorita Melanie. Ele não disse nada, mas sua posição deixou claro que ele ouvira a troca.
O Conde rosnou para Mel, “Onde está ela? Onde está a ‘prrrincesa’?”.


Parte 2

“Qual princesa você quer dizer?”, Mel disse calmamente. “Eu conheço várias”.
O Conde deu um grunhido de frustração e olhou de relance suspeitosamente em torno do cômodo. Localizou um par de sapatos pequenos atrás de uma cortina e se lançou sobre eles. “Aha!”, ele arrastou a cortina para trás e puxou um menino pequeno.
“Ei, que ‘cê’ ‘tá’ fazendo? Solta, macaco grande!”, Jim se soltou com uma série de palavras que, em circunstâncias normais, teria feito a Sra. Barrow pegar uma barra de sabão para esfregar sua boca. Ela sorriu orgulhosamente para ele da entrada.
“O príncipe herdeiro roubado, creio”, Thur disse a Sir Walter. “Ele aprendeu aquelas palavras dos ciganos, sem dúvida nenhuma”.
“Quê, ele não é nada além de um pequeno mendigo!”.
“Quem vocês estão chamando de mendigo—”, Jim começou antes de ser silenciado pela Sra. Barrow.
O Conde apontou um dedo acusador para Mel. “Esta mulher conhece a Princesa Lua Maria!”.
O senhor Walter retirou um lenço e enxugou a testa. “Conhece, senhora?”, ele perguntou.
Mel deu a ele um olhar frio. “Princesa Lua Maria de Zindaria? Sim, claro que eu a conheço. Ela era um das minhas alunas mais distintas. Eu também tive a honra de instruir a atual condessa de Morey, e Lady Hunter-Stanley assim como a honorável Sra. Charles Sandford”. Ela sorriu cortesmente para Sir Walter.
“Então, onde ela está?”, o Conde argumentou.
Mel olhou de cima do nariz para ele. “A princesa Lua Maria deixou os meus cuidados quando tinha quinze anos de idade”.
“Vocês trocaram correspondências”, o Conde alegou.
Mel ergueu uma sobrancelha. “Naturalmente. Eu me correspondo regularmente com todas as minhas meninas”.
O Conde bateu o seu chicote contra a bota. “Ela estava vindo para cá, para você! Ela disse isso nas cartas”.
Mel ergueu ambas as sobrancelhas. “Lendo cartas de outras pessoas? Isso é muito desonroso”.
“Quê! Não fuja da pergunta. Ela fez um acordo de vir para cá com o menino”.
Mel deu um sorriso de lânguido. “Fez? É mesmo?”.
O Conde Anton franziu o cenho. “O que você quer dizer?”.
Mel alisou as saias placidamente. Um ratinho provocando um leão. Thur mordeu o lábio. Ela estava se divertindo, ele percebeu. Conseguindo ficar quites, pelo menos um pouco, depois do que tinha sofrido nas mãos dele. O Conde Anton falou de repente, seu chicote batendo contra a bota, mais firme e mais firme, de acordo com sua perda de paciência, seus olhos pálidos presos nela.
Eventualmente ela disse, “O que uma pessoa escreve e o que ela faz, frequentemente, divergem bastante”. Ela olhou para o escudeiro. “E se as pessoas que leem cartas que não são para elas saem como loucas atrás das informações o resultado, bem…”, ela trincou os dentes como um pretexto de sorriso para o conde.
O Conde olhava fixamente para ela, provocado. Os dedos esbeltos dobrados como se estivessem tentados a estrangular. Chay não tirou os olhos do Conde. Ele cruzou os braços e sua mandíbula sobressaía satiricamente.
Thur avançou. “Isto é o bastante. Se esta princesa estava escrevendo cartas para combinar visitas com seus velhos amigos, e você as leu, por que diabos está dizendo a todo mundo que eu a sequestrei? Pretendo te denunciar por calúnia! Sir Walter, você é minha testemunha”.
Sir Walter limpou a garganta. “Agora, Capitão Aguiar, estou certo de que não há necessidade disto. O Conde não estava sendo sério, estou certo. Não é, Conde?”.
Houve um silêncio tenso. O conde sabia que estava por um fio. Depois de um momento ele disse firme, “talvez meu informante tenha cometido um engano”.
“Sim, sim, um engano”. O escudeiro agradecidamente aceitou a desculpa. Ele girou para Thur. “Foram os cavalos, sabe. O conde foi informado de que a princesa estava em um veículo trazido por um par de cavalos cinza combinados, e como todo mundo sabe, os únicos cavalos cinza de qualidade na área são os seus. Foi erro nosso. Devem ter sido outros cinza de passagem. Alguma outra senhora”.
Thur deu ao conde um olhar firme. “Realmente”. Os Zindarians eram cavaleiros: claro que notariam os cavalos dele.
O escudeiro estava agradecido por ter uma desculpa para partir. “Minhas desculpas pelo engano, Capitão Aguiar, e a senhorita Melanie, pela perturbação. Depois do senhor, Conde”. Ele gesticulou em direção à porta.
O conde hesitou, então marchou no corredor, o rosto pálido de raiva e frustração.
Jim deslizou adiante no corredor e abriu a porta da frente. Enquanto o conde, nada elegante, passava furiosamente, Jim disse com uma voz descarada, “uma boa lição para um lixo ruim, serpente magra e barulhenta!”.
Privado de sua presa, o conde cortou seu chicote firme através do rosto do menino. Jim gritou de dor enquanto colidia contra a parede.

Lua se sentou na cama de cima com o braço ao redor de Nicky. Ela tinha tentado ficar tranquila, assegurando o filho de que não havia nada de errado, que o Conde Anton estava meramente no andar de baixo e ela não desejava falou com ele.
Nicky parecera aceitar, sentando quieta, dócil e obedientemente.
Para se distrair do que poderia estar acontecendo no andar de baixo, ela perguntou a ele sobre sua lição de equitação. Mas Nicky não respondeu. Depois de um momento pensativo disse, “o Conde Anton quer me matar, não é, mamãe? E se tornar príncipe no meu lugar”.
Ela olhou fixamente para ele, chocada. Ela tinha tentado afastar isto dele. Há quanto tempo ele sabia?
Ele acrescentou, “é por isso que nós estamos aqui em cima na sua alcova. O Sr. Aguiar e os outros vão nos salvar, não é?”.
“Sim, bem, eles vão”.
“E nós esperaremos aqui até que estejamos seguro para descer novamente”. Ele estava pálido, ela viu, e seus olhos estavam aflitos.
E de repente Lua percebeu o que ela estava fazendo. Ela estava sentada aqui em cima, como um coelho assustado.
Ensinando ao filho a se esconder como um coelho assustado.
Enviando outras pessoas para se arriscarem por causa dela.
O chalé de Mel tinha sido totalmente queimado. Ela tinha perdido tudo por causa de Lua, e ainda assim Mel estava no andar de baixo, enfrentando o homem que a tinha encarcerado e queimado sua casa.
Não estava se escondendo como um coelho assustado.
Nos últimos dias Nicky tinha começado a arder com confiança; agora ele estava com o rosto enrugado e ansioso novamente.
Lua tinha vergonha. Ela tinha deixado o medo mandar nela. Ela olhou para seu filho pequeno e se recordou da conversa que teve na cozinha sobre a vida que ela estava dando a ele, uma vida de fuga, fuga e mais fuga.
Ela tinha escapado de Zindaria. Não estava agora em um país onde a influência insidiosa do Conde Anton era tão penetrante.
Aqui havia menos chance de as criadas e os cavalariços estarem sob o pagamento dele, devendo a ele fidelidade, sendo aterrorizados. Aqui ele era o estranho, o estrangeiro—não ela.
Aqui as pessoas acreditavam nela. Os medos dela não tinham sido creditados como tolices de mulher. Ela tinha sido levada a sério. E ela recebeu suporte.
Então o que ela estava fazendo agindo como um coelho? Enchendo o filho de medo e ensinando a ele a ser impotente em face dele.
Aqui e agora as fugas iriam parar.
“Sr. Aguiar disse algo interessante outro dia”, ela disse a Nicky. “Ele disse, ‘uma batalha não é sempre ganha com apenas a força bruta’”.
Nicky inclinou a cabeça considerando as palavras dela. “Você quer dizer que nós não podemos ganhar do Conde Anton em uma briga adequada, mas há outros caminhos para derrotá-lo?”.
Ela sorriu. “Quando você ficou tão inteligente? Sim, meu amor, isto é exatamente o que eu quero dizer”.
Ela ficou de pé e olhou pensativamente em torno do quarto. Ela não tinha nenhuma arma para se defender e defender a seu filho. Em Zindaria ela possuía uma pistola pequena—que Rupert tinha dado a ela e ensinado-a a usá-la depois do atentado a vida de Nicky onde o brinco dela tinha sido rasgado. Mas a pistola tinha desaparecido depois da morte de Rupert.
Ela não seria capaz de lutar com o conde, mas certamente poderia blefar. E para blefar, ela tinha a arma exata.
Ela abriu a chapeleira e embaixo da parte inferior falsa tirou um pacote circular.
“Para que você quer isso, mamãe?”, Nicky sussurrou.
“Quando você não tiver mais nada em que se apoiar, meu filho”, ela disse a ele, “lembre-se de quem você é de onde você veio. A força virá”.
Ela desembrulhou o pacote e tirou a tiara de diamante da mãe. Era a única coisa que ela tinha da mãe, e ela a amava, de coração. Ela estava na frente do espelho e a pôs na cabeça. Parecia ridículo com suas roupas de viagem, mesmo assim dava forças a Lua.
“Eu tenho isso para me apoiar”, Nicky disse a ela e mostrou uma bengala preta e longa com uma alça prata. Era quase tão grande quanto ele. “Achei no guarda-roupa”.
Ela sorriu e andou na ponta dos pés até a porta, apenas para escutar. Ela não tinha nenhuma intenção de se mostrar a menos que fosse forçada.
E foi na hora exata de ouvir, “uma boa lição para um lixo ruim, serpente magra e barulhenta!”, seguido por um grito de dor de criança.
Nicky saltou. “Isto foi o Jim. Jim foi ferido!”, e antes que Lua pudesse parar Nicky, ele correu para fora do quarto.
Ele correu em direção aos degraus, gritando a plenos pulmões em Zindarian, “Deixe-o, seu tirano! Eu ordeno que fique para trás!”.
Em uma mão Nicky brandia—bom Deus, Lua pensou. Era uma espada! Onde raios ele teria encontrado uma espada?
Ela correu atrás dele. Enquanto Nicky se atirava os degraus abaixo gritando, ela viu o Conde virar. Houve uma luz selvagem nos olhos dele enquanto mostrava uma faca com lâmina longa e a girou na direção do menino pequeno correndo na direção dele.
“Nicky, nãoo!”, ela gritou.
Arthur girou com o som de Nicky gritando. Em um segundo ele alcançou e pegou Nicky em pleno voo quando ele alcançava o final dos degraus da escada. Em segundos ele tomou a espada de Nicky, jogou-o para Chay, e estava com a espada na garganta do Conde Anton. A faca na mão do conde oscilou e então caiu no chão.
Nicky estava salvo. Lua tropeçou e quase caiu. Ela se embreou no corrimão e se firmou. Seu filho ainda não estava fora de perigo. Arthur o tinha salvado da faca, mas ainda havia a lei para ser lidada. Os joelhos dela cambalearam. Mas não estava terminado ainda.
O conde rosnou. “Veja, ela está aqui afinal! A princesa perdida de Zindaria, como eu reivindiquei desde o princípio. Eu exijo que você mande este cachorro raivoso dar ela e o menino a mim”. O cachorro raivoso era Arthur, e a única reação desse foi apenas apertar a ponta da espada um pouco mais firme contra a garganta do conde.
Lua fixou o olhar no Conde Anton, alisado o vestido com mãos que tremiam, ajeitou a tiara de sua mãe, e deslizou abaixo, lentamente, os degraus restantes. Ninguém disse uma palavra. Todos os olhos estavam em Lua.
Ela alcançou a parte inferior dos degraus e se moveu na direção do Conde. Ela ignorou a espada em sua garganta e se dirigiu a ele da forma mais nobre possível. “Conde Anton, como ousa entrar repentinamente nesta casa, gritando e maltratando crianças”.
Os lábios dele se moveram em uma zombaria sem som quando ela o cutucou no peito com o dedo firme. “Você é um tolo sem maneiras e tenho vergonha de reconhecê-lo como um filho de Zindar. E como ousa informar a outras pessoas que estou sumida. Eu pareço perdida para você?”.
“Ele tinha me dito que o Capitão Aguiar tinha roubado a senhora e seu filho”, Sir Walter disse.
Lua não girou a cabeça. “Fez. Ele. Sério?”, ela disse, enfatizando cada palavra com um cutucar de dedo. “Ninguém roubou a mim ou ao meu filho. As coisas estão ficando um pouco exageradas em Zindaria quando uma mulher não pode levar seu filho para visitar o país de seu nascimento—eu nasci na Inglaterra—”, ela acrescentou para o benefício do magistrado, “sem um tolo como você dizendo ao mundo que fui roubada”. Ela estreitou os olhos para ele. “E ligando ao fato de você ter tratado a minha amiga senhorita Melanie, e ao amigo do meu filho, Jim—sem mencionar o modo como você apontou a lâmina de uma faca para o próprio príncipe herdeiro—estou quase pedindo ao Sr. Aguiar que me empreste sua lâmina para que assim eu possa terminar com você, aqui e agora”.
“Er, Sua Alteza, isso não é permitido na Inglaterra”, o magistrado disse nervosamente. “As execuções sumárias são ilegais—deve haver um processo, um julgamento corretamente conduzido, e assim por diante. Capitão Aguiar, você sabe disto”.
“Estou ao comando da princesa”, Arthur respondeu.
O conde empalideceu e sacudiu a cabeça quando Arthur prontamente passou a alça da lâmina para Lua sem removê-la de sua garganta.


Parte 3

Uma gota de sangue escorreu pela garganta do conde. Lua assistiu fascinada. Ela não tinha se movido, ele mesmo tinha feito isto.
Ela olhava fixamente para a lâmina longa de seu inimigo. Com uma punhalada ela poderia parar a ameaça em seu filho para sempre. Os músculos dela ficaram tensos. Ela olhou fixamente e hipnotizada, ao longo do cintilar prata da lâmina. Na garganta do conde, uma pulsação latejou.
Seria tão fácil. Uma punhalada e suas dificuldades estariam terminadas.
Mas ela não conseguia se forçar a fazer. Ele era um homem, um ser humano. E tinha os olhos de Rupert. Ele era primo de Rupert, o parente mais próximo de seu filho. Ela alegremente o veria morto, mas ela não conseguira fazer isto, não a sangue frio.
Ele leu isto nos olhos dela e zombou. “Você é uma covarde, assim como seu filho é um fraco”.
“Não há uma migalha de covardia em qualquer um deles”. Arthur colocou uma mão sobre a dela e aceitou a devolução da espada. “Mas ela não é uma assassina a sangue frio”.
Ele pausou, então acrescentou com tom aveludado, “eu, por outro lado, depois de oito anos em guerra, sou”.
“Princesa, Capitão Aguiar, não façam isto”, Sir Walter implorou. “Seria assassinato, assassinato a sangue frio”.
O Sr. Aguiar olhou para Lua. “Por você, eu faria qualquer coisa. Apenas diga a palavra”. Seus olhos estavam muito azuis e muito firmes.
Lua fechou os olhos brevemente, então relutantemente agitou a cabeça. “Eu não posso”, ela sussurrou.
“Por Javé, o que é isto? Um comitê de recepção?”, um homem alto usando buckskins, um casaco empoeirado de corte elegante e botas altas e pretas passou pela porta aberta e jogou seu chapéu de castor de borda larga na mesa da sala. Ele ergueu uma lente inspecionou as pessoas de pé no corredor. A lente pairou sobre a tiara de Lua por um momento, e então se moveu.
Tendo terminado sua inspeção, ele sorriu um pouco e disse, “se você vai espetar esse cara, Thur, mova-se. Eu montei toda a distância de Aldershot até aqui e estou com uma sede dos diabos”.
“Disse bem, Rafe”. Um segundo cavalheiro, mais bonito mas menos elegante que o primeiro, o seguiu. Tirando suas luvas de couro, ele, também, olhou de relance para o quadro vivo congelado e disse com o cenho franzido, “mas não na frente das senhoras e crianças, Thur é um bom rapaz. Não é de bom tom assassinar pessoas na frente de senhoras e crianças”. Ele se curvou graciosamente para Lua e Mel.
“Sim, um pouco de consideração, meu irmão”, um terceiro homem declarou. “Leve o cara para fora e fure-o e deixe o chão da Sra. Barrow limpo”. Ele encontrou o olhar da Sra. Barrow e piscou. Este deve ser Harry, Lua vagamente pensou. Ele era a imagem de Arthur, alto, moreno, ombros largos, apenas o cabelo era marrom escuro em vez de quase preto, seus olhos eram cinza. Ele olhou do irmão até Lua e para trás novamente. Seus olhos chamejaram para a tiara dela e uma sobrancelha se ergueu um pouco.
“Vá em frente, Sr. Thur, não me importo”, a Sra. Barrow disse. “Eu ficaria muito feliz em enxugar o sangue daquele bandido. E não me importaria de assistir, também. De fato, eu apreciaria demais!”.
“Eu, também”, disse Jim. “Sangue fede—”, a Sra. Barrow o calou com sua mão.
Arthur olhou para o semblante firme do conde e girou a cabeça na direção de Lua. “Última chance”.
Ela agitou a cabeça. “Deixe-o ir”.
Ele abaixou a espada e empurrou a cabeça. “Certo, saia”.
“Eu tenho o direito —”
“Apenas saia homem! Não torne isso tudo pior do que já está”, o escudeiro do conde disse, empurrando-o completamente em direção à porta.
“Você não deu a última palavra”, Conde Anton murmurou. O escudeiro o agarrou pelo braço e o puxou para fora, dizendo, “foi ruim o suficiente ter acertado o pirralho respondão, mas estender a lâmina para uma criança, e essa criança sendo o próprio príncipe herdeiro! Estou chocado, Conde, chocado! Há algo diabólico e suspeito em você, sem dúvida!”.
Do lado de fora Lua viu os homens do conde esperando como um grupo estranhamente quieto.
Então ela viu Barrow de pé próximo, com uma pistola de prata em cada mão treinada, voltadas aos homens que esperavam. Lua reconheceu aquelas pistolas.
“Irei vê-los partir”, Arthur disse a ela, e ele seguiu Sir Walter e o conde.
“Devemos?”, disse o homem elegante chamado Rafe, e sem esperar foi para o lado de fora, seguido por seus amigos. Lua notou que cada um deles tinha pistolas também.
Arthur levou o magistrado para o lado e falou com ele por um minuto ou dois. Sir Walter girou, e olhou fixamente para o conde severamente, então anuiu com a cabeça.
Enquanto Lua assistia o conde e seus homens desaparecerem da vista, seus joelhos de repente faltaram e ela desceu abruptamente os degraus.
Quando Arthur retornou, disse imediatamente, “você está bem?”.
Lua olhou para ele. Ela estava bem? Sim, mais do que bem—ela se sentia maravilhosa. Apenas um pouco trêmula, por alguma razão estranha. Ela olhou para o homem que tinha se oferecido para matar seu inimigo por ela e perguntou a ele, “você tem algum conhaque?”.
“Sim”.
“Então eu poderia beber um copo cheio, imediatamente”.
“Eu terei um, também”, declarou o homem chamado Rafe.
“E eu”, disse seu amigo.
Rindo, Arthur ofereceu a mão. “Venham juntos então, acho que todos merecemos uma bebida”.
Nicky tomou a outra mão dela. “Nós mostramos ao conde Anton, não é, mamãe?”.
“Nós fizemos, meu bem. Todos nós”. Ela não conseguia tirar da mente o modo como Arthur tinha olhado para ela quando disse, por você, eu faria qualquer coisa. Apenas diga a palavra.
Eles foram à sala octogonal, onde as bebidas foram despejadas e todo mundo se reuniu para relatar os eventos da manhã àqueles que não tinham estado presente.
Quando Arthur contou a parte em que Mel tinha repreendido o conde por ler as cartas de outras pessoas, a sala explodiu com risadas masculinas. Mel, normalmente retraída e desconfortável na presença de homens, riu e corou feliz quando Arthur fez um brinde às duas heroínas.
Lua ainda não podia olhar para ele. Algo tinha acontecido lá nos degraus e ela não estava bem certa do quê era e não sabia como lidar com isso. Ela precisava pensar, e com os olhos dele sobre ela, não conseguia pensar mesmo.
“Mas me diga, Princesa”. O alto e elegante Rafe Ramsey girou para Lua. “Você sempre usa aquela tiara?”.
As mãos de Lua voaram até a tiara. Ela tinha se esquecido de que a estava usando. Ela sorriu timidamente, sentindo-se bastante tola. “Não, eu sei que parece tolo. É apenas… Era da minha mãe e… eu a usei para me sentir valente”.
Ela meio que esperava que eles rissem, mas em vez disso, Rafe Ramsey simplesmente concordou com a cabeça. “Eu tinha me perguntado se era realmente isto”.
“Como um uniforme”, Micael Borges acrescentou. “Ou uma bandeira”.
A aceitação deles a surpreendeu. Todos eles foram soldados. Ela tinha pensado que soldados não se agradariam de tal estratagema.
E então ela se lembrou da espada. “Onde você conseguiu aquela espada?”, ela perguntou a Nicky. Ela girou para os outros e explicou. “Um minuto ele estava segurando uma bengala preta e no próximo estava carregando, degraus abaixo, uma espada na mão”.
“A espada estava na bengala”, Nicky disse a ela. “Eu torci a manivela e de repente na minha mão havia uma espada dentro da bengala”.
“Era a espada oculta da tia-avó Gert”, Arthur e Harry disseram ao mesmo tempo.
O queixo de Lua caiu. “Sua tia-avó carregava uma espada oculta?”.
Arthur deu um sorriso recordativo. “Nunca ia a lugar algum sem ela. Era uma formidável e velha dama. Até onde sei, ela nunca realmente usou a lâmina em ninguém, mas a bengala pegou um ladrão de estrada, uma vez. O cara era um pouco convencido, imaginando que estava lidando com uma velha dama delicada, até a dama bater na cabeça dele com firmeza e o nocautear”.
Todo mundo riu. Ele ergueu o copo. “Para a tia-avó Gert e sua fiel espada escondida”. Todos beberam.
“Nós ainda vamos para Londres, mamãe?”, Nicky perguntou quando eles acabaram os copos.
Lua olhou de relance depressa para Arthur.
“Não hoje, Nicky”, ele disse. “Nós vamos esperar e ver se o Conde Anton tem mais alguns truques guardados na manga. Ele tem o hábito de atear fogo a lugares, então vou ficar de olho para ter certeza. Troquei umas palavras com Sir Walter sobre as atividades do conde e ele iria questioná-lo. Parece que o barco branco grande que nós vimos ancorado na enseada de Lulworth pertence ao conde Anton”.
“E se Conde Anton não vier?”, Nicky persistiu.
Arthur olhou para Lua. “É com a sua mãe. Qualquer coisa que ela desejar”.
Ela não encontrou os olhos dele. Qualquer coisa que ela desejar. Era o que ele tinha dito antes, com a espada: por você, eu faria qualquer coisa. Apenas diga a palavra.
O modo como ele tinha dito, soara como uma promessa, um juramento.
Ela não queria pensar sobre isto. Recusava-se a pensar sobre isto. Ela era mais velha agora e mais sábia, e sabia que não deveria acreditar em palavras que soassem nobres. Ou ações. Mas ser galante era a segunda natureza do homem. Alguns homens eram assim.
Ela não podia ficar aqui. Ela era, afinal, uma convidada não convidada, embora ele a fizesse se sentir mais do que bem-vinda. Estava na hora de ela começar a sua nova e própria vida. Fugir era uma solução apenas a curto prazo. Ela tinha que descobrir algo mais duradouro, mais estável.
Enquanto isso ela organizaria a proteção de Nicky—na realidade, o Sr. Aguiar já o tinha feito. O que podia ser proteção melhor do que quatro altos e antigos soldados—cinco se contasse com o Sr. Suede.
E Londres? Ela não estava certa do que faria da vida ainda, mas tinha planos definidos para Londres.
“Sim, Nicky, nós devemos ir para Londres”, ela decidiu. “Mel e eu precisamos fazer compras”.
“Todos nós?”, Nicky disse. “Jim, também?”.
Lua hesitou. Arthur interveio. “Eu preciso ter uma palavra com Jim em particular, primeiro. Jim?”, ele acenou com uma mão em direção à porta, e com medo visível, Jim foi.

“Agora, Jim, eu não acho que você tem sido completamente honrado conosco”, Thur disse de uma vez para Jim na biblioteca.
Jim se sentou em uma cadeira oposta parecendo pequeno, fraco e assustado. A marca lívida do chicote do conde tinha inchado seu rosto. A pele cintilava com um unguento da Sra. Barrow. Sua cabeça estava defensivamente curvada sobre os ombros. Suas orelhas esticadas, parecendo maiores por causa do corte de cabelo severo, de alguma maneira acrescentavam vulnerabilidade a sua aparência. Ele não disse nada.
Thur disse suavemente, “Você nos disse que seu pai tinha saído por uma semana ou duas apenas”.
Jim anuiu com a cabeça, então tragou, a ação dolorosamente visível em seu pescoço esquelético.
“A Sra. Barrow fez o Sr. Barrow perguntar por aí”, Thur disse. “Ninguém vê o seu pai há pelo menos seis ou oito semanas”.
“Você não vai me colocar na paróquia como um órfão, ne, senhor? Porque se for, eu não irei. Vou embora”. Jim observou o cômodo desesperadamente e tenso, como se estivesse se preparando para fugir.
“Não, nós não o poremos na paróquia”, Thur o assegurou.
Os olhos de Jim estavam fixos nos de Thur. “Você promete?”.
“Eu prometo. Mas você deve me dizer a verdade”.
Jim observou o rosto dele com uma intensidade dolorosa. Ele pareceu achar segurança na expressão de Thur, a tensão drenada de seu corpo. “Meu pai sumiu há mais de dois meses. Acho que ele ‘ta’ morto. Ele nunca me ‘dexô’ por tanto tempo antes—não por mais ‘cuma’ semana”. Ele fungou e enxugou o nariz com a manga.
Thur passou um lenço para ele. Jim agradeceu, dobrou o lenço e o colocou cuidadosamente no bolso, intato.
“Eu cuidarei de você no futuro, Jim, se você concordar. Mas vou querer a verdade o tempo todo”.
O menino olhou para ele cautelosamente. “O que você querer que eu faça?”.
“Não estou certo”, Thur disse. “No momento, quero que você faça companhia ao jovem Nicky”.
Jim franziu o cenho. “Você quer dizer cuidar dele porque bastardos como aquela cobra do conde estão atrás dele?”.
Thur sorriu. “Algo do tipo. Eu quero que você fique com ele. Você terá que fazer as lições com a senhorita Mel quando Nicky fizer. E terá que fazer qualquer coisa que a Sra. Barrow te diga para fazer. E quando todos nós formos a Londres em um dia ou dois, nós poderíamos levá-los conosco. Se você concordar”.
Os olhos de Jim se ampliaram. “Para Londres? Você não está brincando comigo, senhor?”.
“Não é nenhuma brincadeira, Jim”.
Os olhos do menino se iluminaram. “Eu irei para Londres, claro! E eu cuidarei de Nicky, farei as lições e serei tão bom quanto ouro, senhor, apenas espere!”.
Thur riu. “Bom. Agora, acho que nós provavelmente deveríamos fazer um memorial pelo seu pai, não é?”.
Jim fez uma careta. “Você quer dizer, como numa igreja?”.
Thur anuiu com a cabeça. “Sim, isso mesmo”.
“Meu papai odiava igrejas e pastores, se você não se importa ‘queu’ diga isso, senhor. Não quero nenhum serviço de igreja para ele”. Ele olhou para Thur com expressão angustiada. “Se você quiser mudar de ideia sobre me manter, senhor, eu entenderei, mas… não posso desapontar meu pai. Ele era um bom pai”. Ele fungou novamente, e novamente usou a manga.
Thur ficou tocado. Ele arrepiou o cabelo espetado de Jim. “Não, você está com a razão em respeitar os desejos do seu pai. Mas acho que você deveria fazer algo para dizer adeus a ele. O que você acha que ele gostaria que nós fizéssemos?”.

Todos se juntaram na praia, próximo ao chalé de Jim ao entardecer. A Sra. Barrow preparou uma grande quantidade de carnes assadas e a passagem fúnebre. Barrow tinha espalhado a notícia e mais ou menos vinte amigos do pai de Jim vieram. Pareciam saber o que o pai do Jim desejaria.
Eles fizeram um fogo na praia. Carregaram pedras da praia até o topo do precipício e construíram uma lápide olhando para o mar. Então, abaixo na praia, pegaram um escaler danificado, antigo e incapaz de navegar, com um grande rombo do lado. O pescador o consertou grosseiramente, martelando placas em cima do buraco e engessando-o com piche quente para fazê-lo navegar temporariamente.
Do chalé Jim pegou vários artigos. Ele distribuiu as coisas do pai entre os pescadores; suas roupas, ferramentas; vários pequenos pedaços da vida do homem.
Era lamentavelmente pouco.
Ele deu algo a todos. Para Lua deu uma pedra bonita, com uma samambaia petrificada dentro. Para Mel deu uma contendo uma concha.
O pai de Jim tinha sido escultor de algum talento, pois havia algumas boas peças esculpidas. Ele deu um dente de baleia com um monstro do mar esculpido para Nicky.
“Não mostre isso a Sra. B.”, Jim sussurrou para Barrow quando ele deu a ele uma faca com uma alça de osso. Barrow olhou de relance para a faca e piscou. A alça tinha uma escultura escandalosa de uma sereia nela.
Para a Sra. Barrow Jim deu um colar adorável de lágrimas de sereia. “Era da minha mãe”, ele murmurou e depressa se virou. A Sra. Barrow enxugou lágrimas dos olhos.
Para Thur ele deu uma faca com alça de barbatana de baleia. Deu a Chay uma caixa de madeira pequena. Chay abriu-a e seus olhos se arregalaram. Continha um fino jogo de xadrez feito de barbatana de baleia. “Você deveria ficar com isto, rapaz”, ele disse.
Jim agitou a cabeça. “Não sei jogar xadrez. Quero que você fique com isto”.
Chay tocou no ombro do menino à medida que ele se virava. “Ficarei com ele até que você possa me ganhar no xadrez”, ele disse a Jim. Jim deu a ele um sorriso tímido e voltou para seus deveres.
Depois das posses principais de seu pai terem fim, Jim colocou o resto em um bote velho. “Agora encham com madeira flutuante”, ele ordenou, e todos juntaram madeira até que estivesse quase cheio. Sob suas ordens, eles empurraram o bote velho no mar até que ele flutuou. Então Jim pegou uma tocha e virou para olhar para as pessoas reunidas.
“Meu pai nunca gostou de igrejas, como a maioria de vocês sabe”, ele disse. “Mas ele me contou uma história uma vez sobre pessoas chamadas vikings e como eles faziam seus enterros. Ele me disse que considerava esse o melhor jeito de ir embora. Então, Pai, isto é para você”.
Ele ateou fogo à madeira flutuante e o fogo pegou no bote.
“Empurre!”, ele ordenou, e o bote em chamas flutuou para o mar. Eles assistiram em silêncio, então um pescador pegou um violino. E começou a tocar uma lenta e inesquecível melodia, e depois de um momento, uma mulher começou a cantar:

Blow the wind southerly, southerly, southerly,
Blow the wind south o’er the bonny blue sea;
Blow the wind southerly, southerly, southerly,
Blow bonny breeze, my lover to me.
They told me last night there were ships in the offing,
And I hurried down to the deep rolling sea;
But my eye could not see it
Wherever might be it,
The bark that is bearing my lover to me.

 “Essa era a canção favorita da mãe dele”, a Sra. Barrow soluçou para Lua.
Rafe, Harry e Micael ficaram de pé, de um lado, assistindo.
“Aquele menino será um bom homem um dia”, Rafe comentou.

Harry virou o olhar para Jim. “Ele já é”.


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