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quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Cap 4-2 "A Princesa Roubada"

Parte 2

“Ai, ‘tá’ me machucando!”, uma voz jovem reclamou quando Lua reentrou na cozinha. A Sra. Barrow estava lutando com a criança, desnudando-a enquanto o Sr. Barrow marchava de um lado para outro com baldes d’água.
“Eu vou te machucar mais ainda se você continuar se remexendo assim, rapaz!”, a Sra. Barrow retrucou. “Olhe para o seu estado! Que vergonha!”.
“Ele não está muito machucado, está?”, ela perguntou a Sra. Barrow.
“O nariz não está quebrado, apenas sangrando. Não acho que houve nenhum outro dano, mas o que se pode dizer com um mendigo pequeno tão imundo? Qual é o seu nome rapaz?”.
“Jim—ai!”, a criança, Lua percebeu, não era muito mais velho do que Nicky, tentava se afastar, mas a Sra. Barrow era mais do que alguém a altura dele.
“Despeje a água quente, agora, Barrow”, ela instruiu por sobre o ombro. “Não será tão quente quanto eu gostaria, mas não será fria, também—fique quieto, menino dos diabos!”.
“Pare! Isso não é decente!”, a criança tentou pegar de volta a camisa que ela cruelmente tinha desnudado do corpo fraco dele.
“A quantia de sujeira em você é que não é decente, jovem Jimmy, rapazinho! Eu não ficaria surpresa se houverem batatas crescendo nos bolsos dele, madame!”.
“Eu não tenho!”, o menino olhou para Lua. “Eu não tenho, senhora, verdade, não tenho! Mande ela me deixar, por favor”.
Lua deu a ele um olhar impotente. Ela estava preocupada com o próprio filho. O destino dessa criança não a concernia; ele estava em boas mãos com a Sra. Barrow. Esta criança estava perfeitamente segura.
Ela olhou de relance para fora da janela, sabendo que não havia ainda tempo suficiente para que ele retornasse, mas era incapaz de suprimir a ansiedade em seu peito.
A Sra. Barrow continuou, destemida, “há sujeira suficiente em você para crescer uma dúzia de batatas. Você vai tomar banho, querendo ou não”. Ela arrancou a calça comprida rota dele.
“Eiiiii!”, o menino gritou e desesperadamente tentou cobrir suas minúsculas partes íntimas. “Eu não vou tomar banho! Não vou!”.
“É isso ou te ferver no tacho de cobre com os lençóis!”, a Sra. Barrow respondeu ferozmente.
Ferver no tacho de cobre!”, os olhos largo e chocados de Jim se distinguiram contra a sujeira preta em seu rosto.
“Com os lençóis, então”. Por sobre a cabeça do menino, a Sra. Barrow piscou para Lua. “Um boa fervida poderia matar todos os vermes que você tem convivendo com você! As pulgas e lêndeas e quem sabe o quê mais? Eu faria isto, mas Barrow disse que um banho seria mais amável. Mas se você quer discutir…”
Entre uivos de protesto Jim foi jogado passou por um banho de balde e foi esfregado da cabeça até os dedos do pé, sem chances de modéstia. Todas as vezes que abria a boca para protestar, sabão entrava nela.
Lua estava presa entre o drama-comédia doméstico e a ansiedade pelo filho. Nicky tinha medo de cavalos; por que tinha concordado em dar um passeio?
E se eles tivessem sido seguidos? E se os homens do Conde Anton tinham achado Nicky no topo do precipício, sozinho e desprotegido? Sem testemunhas.
Atrás dela, a água na bacia tinha ficado preta.
Lua batalhou contra a imagem de um corpo pequeno e despedaçado contra as pedras pontiagudas e estremeceu. Ele estaria bem, estaria. Ela rezou silenciosamente.
“Pise no tapete”.
Com toda a resistência esfregada para fora de seu corpo, Jim ficou de pé, como um rato afogado, mas extremamente limpo, o cabelo arrepiado e molhado, e tinha sido vivamente secado e envolvido em uma toalha grande.
“Agora se sente! E coma— não discuta!”, a Sra. Barrow deu a ele um prato coberto por uma fatia enorme de torta de porco. A torta desapareceu em segundos.
Lua olhou de relance para fora da janela pela vigésima vez. Ainda nenhum sinal de um homem alto e um menino pequeno em um cavalo preto. A ansiedade a corroia.
A Sra. Barrow foi buscar uma tesoura. “Vou cortar seu cabelo”, ela disse a Jim. “Está com muitos nós para pentear e, além disso, é o único modo de checar se há algum corte na sua cabeça”.
Ele recuou horrorizado contra a cadeira. “Não é nenhum! Estou certo disso, juro!”.
“O certo é não há nenhum, e não ‘não é nenhum’”, ela o corrigiu. “E sente-se quieto ou vou acabar cortando as suas orelhas também”.
Jim se sentou muito, muito quieto. O cabelo caiu em pedaços emaranhados ao redor dele.
“Assim está melhor, você quase parece humano agora”. A Sra. Barrow deu um passo para trás e o encarou severamente. “Agora, vamos dar uma olhada nesse nariz”. As mãos de Jim surgiram protetoramente e ela as afastou. “Não seja tolo. Você acha que eu vou te machucar?”.
Sr. Barrow piscou para Lua. “Ei, por que você temeria a Sra. Barrow, rapaz?”, ele disse com um tom profundo. “Ela apenas esfregou cada centímetro do seu corpo nu, ameaçou te ferver e cortar as suas orelhas. Não há nada para se preocupar”.
“Oh, seja sério! O rapaz sabe bem que eu não iria machucá-lo”.
O menino deu a ela um olhar de assombro.
“Oh, não me dê esse olhar—você sabia! Agora, sente quieto enquanto eu cuido do seu nariz ou não vou te dar o pão fresco e geleia. Com creme”.
Jim seguiu a ameaça e se sentou como um cordeirinho enquanto ela limpava e examinava seu nariz. Sr. Barrow piscou para Lua novamente.
Ela deu a ele um sorriso rápido. Vinte e cinco anos de treinamento rígido escapando, sem arrependimento.
Papai teria assinalado que isto seria o resultado de tal negligência—cavalariços piscando para ela de modo familiar, e cozinheiras abraçando-a e chamando-a de querida.
E o pior de tudo era que Lua gostava bastante disso. Ou gostaria se não estivesse tão preocupada.

“E você está certo de que Jim está bem?”, Nicky perguntou a Thur pela terceira vez.
“Sim. Pareceu pior do que realmente era. Doloroso, isso é tudo. A coisa mais importante era limpá-lo de toda aquela lama. Os ferimentos podem inflamar se ficaram sujos”. Thur terminou de amarrar a mala de viagem nas costas de Trojan. “Você não ficou preocupado em ser deixado aqui?”.
“Não”, Nicky disse. “Daqui, eu posso ver quilômetros. Posso ver o mar, a trilha e ninguém poderia rastejar até aqui e me agarrar. Eu te vi muito antes de você chegar aqui”.
Thur fez uma carranca para o menino. “Você está preocupado se alguém vai te agarrar?”.
“Sim, claro”. Ele falou como se fosse um medo perfeitamente normal.
“Alguém já tentou te agarrar antes?”.
“Sim”.
“Sério?”, então a mãe de Nicky tinha base para suas ansiedades, afinal.
“Como você conseguiu isto?”, Nicky apontou para a orelha de Thur.
Thur automaticamente tocou a linha fina e pálida que descia junto a sua mandíbula e terminou no lóbulo dividido da orelha. “Uma baioneta”.
“Se ela tivesse pegado um pouco mais embaixo você teria morrido”, Nicky disse, curto e grosso, como as crianças gostam de falar.
“Sim, ou teria minha orelha cortada na hora”, Thur concordou. “Fiz uma fuga de sorte”.
“Mamãe tem um corte como esse na orelha, também”.
“O quê?”, Thur olhava fixamente para ele. Ele não tinha notado. Ela usava o cabelo solto sobre as orelhas. “Como que aconteceu?”.
“Alguém a rasgou”.
“Ela foi atacada?”.
O menino concordou com a cabeça, fazendo uma careta. “Eu não estou certo se deveria falar sobre isso aqui na Inglaterra”. Ele mordeu o lábio. “Eu ‘provalmente‘não deveria ter dito a você sobre os homens maus, também. O que acontece é que não estou perfeitamente certo do que deveria e o que não deveria dizer”.
“Minha boca é um túmulo”. Thur verificou a sela, fingindo indiferença.
Nicky pensou por um momento, então, aparentemente decidindo que poderia conversar sobre isso com ele, afinal disse, “mamãe me disse depois que tinham sido apenas alguns ladrões querendo seus brincos… um brinco realmente tinha sido roubado. Tinha sangue por todos os lados. Mamãe disse que não tinha doído nada”.
Mamãe tinha mentido, Thur pensou para si mesmo, e se perguntou onde o pai dele estava nessa hora.
“Mas eu acho que ela só estava dizendo isso para que eu não me preocupasse. Mamãe faz isto às vezes”.
As sobrancelhas de Thur se arquearam. Um rapaz perceptivo mesmo tão jovem.
Nicky brincou com as rédeas que estava segurando. Ele deu a Thur um olhar solene, fugidio. “Eu não acho que os homens eram ladrões, também”.
“Você não acha?”.
O menino agitou a cabeça. “Eles estavam atrás de mim. Mamãe apenas os parou”.
“Isso já aconteceu antes?”, Thur perguntou a ele.
“Sim, eu fui sequestrado uma vez, por três dias, mas eles me trouxeram de volta. Eu realmente não me lembro; Era pequeno na época”. Ele encolheu os ombros. “Homens estão sempre atrás de mim”.
“Os homens estão atrás de você agora?”, Thur perguntou tranquilamente. Isso certamente explicava muitas coisas que o tinham deixado perplexo.
O menino curvou os ombros magros. “Nós não sabemos. Mamãe espera que não. É por isso que—”, ele mordeu o lábio.
“Por isso que você veio para a Inglaterra”, Thur terminou por ele. E por que ela tinha sido tão desconfiada dele na noite anterior, ele pensou. “Bem, eu não sei quem estes homens são, Nicky, mas eu te prometo—que se eles vierem atrás de você ou de sua mãe, farei o meu melhor para pará-los”. Ele acrescentou, “eu sou bom em lidar com homens ruins, sabe. Fui um soldado em guerra durante os últimos oito anos”.
A criança deu a ele um longo e avaliativo olhar, então concordou com a cabeça, como se estivesse satisfeito.
Thur montou e colocou Nicky na frente dele. “Hora de voltar”, ele disse. “Sua mãe está preocupada com você”.
“Sim, e eu devo ver como Jim está”.
Eles saíram em um passo tranquilo. A parte cima do precipício estava muito escorregadia com lama para que eles fossem mais rápidos.
Nicky fez uma careta. “Eu fiz a coisa errada, não é? Bater nele com a pedra”.
“Sim”, Thur confirmou. “Por que fez isto?”.
“Bem, ele não lutou como os cavalheiros fazem no meu país, ele estava me batendo e eu me lembrei do que você tinha dito a minha mamãe, como segurar a pedra e batê-la no nariz, e você é um cavalheiro, então eu pensei que era assim na Inglaterra”, Nicky concluiu.
“Não é assim”, Thur disse com remorso. “Eu disse a sua mãe para fazer isso porque uma senhora nunca deve ter que lutar, e ela é pequena e mais fraca do que a maioria dos homens, então não está sujeita às regras de um cavalheiro”.
“Então eu não deveria ter batido no Jim?”.
“Não com uma pedra. Mas não estava errado em lutar defender suas coisas e da sua mãe. E se ele estava lutando com táticas baixas, seu gesto foi compreensível. Você não deveria culpá-lo por isto, também; ele não foi treinado como um cavalheiro”.
Nicky considerou a afirmação. “Eu não estou certo do que deveria fazer—se deveria me desculpar com ele ou não”.
“O que você quer fazer?”.
“Papai costumava dizer que eu nunca deveria me desculpar com um inferior. E Jim é um provinciano, não é?”.
“Nós não usamos mais a palavra provinciano na Inglaterra”, Thur disse a ele. “Mas Jim é provavelmente filho de um pobre pescador”.
“Então papai diria que eu não devo me desculpar”. O menino suspirou. “Mas mamãe diz que se eu fizer uma coisa errada, devo sempre me desculpar, não importa quem seja a outra pessoa. Mas mamãe é uma senhora e senhoras são diferentes”.
“Elas realmente são”, Thur concordou.
“Claro que eu sempre obedeci a papai, mas às vezes não me senti bem, aqui”. Ele tocou no peito.
“Entendo”, Thur disse. “Este assunto não tem nada a ver com a sua mãe ou seu pai, tem? Então o que você acha que deveria fazer?”.
Nicky pensou durante algum tempo. “Eu não me sinto bem por ter batido em Jim e quebrado seu nariz, e não lutei como um cavalheiro deveria”.
Thur anuiu com a cabeça.
“Eu gostaria de conversar com Jim novamente. Ele pode ser o filho de um pescador pobre, mas é um menino interessante”. Nicky deu a Thur um olhar superior. “Eu não quero que ele fique bravo comigo”.
“Então você vai se desculpar para que possam ser amigos?”.
Nicky pensou sobre isto. “Não, eu me desculparei porque fiz a coisa errada”, ele decidiu.
“E se você não gostasse dele? Ainda assim se desculparia?”.
Ele considerou a pergunta. “Eu acho que ainda assim me desculparia, mas não seria fácil se ele fosse meu inimigo, nesse caso ele se sentiria superior”.
Thur concordou com a cabeça. “O que é mais importante, o que inimigo pensa de você, ou o que você pensa sobre si mesmo?”.
“Essa é uma boa pergunta”, Nicky disse pensativamente. “A opinião do meu inimigo não é nada para mim. Você está certo, senhor”.
Eles montaram um pouco. “Senhor, essa foi uma conversa muito boa. Obrigado”, o pequeno menino disse solenemente.
Thur arrepiou o cabelo dele. “Eu gostei, também. Você é um bom rapaz, Nicky. Não é nenhuma maravilha que a sua mãe se orgulhe de você. Agora, devemos montar um pouco mais rápido?”.
“Sim, e galopar como o vento, por favor”, Nicky disse firmemente.

Eles galoparam como o vento, Nicky segurando nos antebraços de Thur, e persuadindo-o a ir mais rápido, mais rápido, mais rápido!

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