Capítulo XII.
Sir Walter mandou dizer logo de manhã que o barco do conde tinha partido
durante a noite, então pouco tempo depois eles partiram para Londres. Saíram em
dois veículos; Arthur dirigiu o curricle e Chay dirigiu um chaise que tinha pertencido
à tia-avó Gert. Os outros cavalheiros foram a cavalo.
Já que ninguém estava com pressa, eles levaram seus próprios cavalos e
completaram a jornada com facilidade, parando de vez em quando para esticar as
pernas e descansar os cavalos. Eles também trocaram de posição. De vez em
quando Arthur levava um de seus amigos no curricle, ou eles dirigiriam e ele
montava, ou um deles se juntava a Lua, Nicky, Jim e Mel no chaise.
“É bastante divertido, não é?”, Lua comentou para Mel, “Todo essa história
de troca”.
“Sim, e ter tantas escoltas arrojadas”, Mel concordou. “Uma coleção tão
magnífica de homens—faz o meu coração balançar. Eles todos são
extraordinariamente bonitos, você não acha?”.
Lua sorriu. “Sim, realmente”. O chaise fez uma curva e ela pegou um
vislumbre de Nicky, sentado com Jim e Arthur tendo uma lição de direção.
Mel seguiu a direção do olhar dela. “Ele é amável, não é? Os meninos o
adoram”.
“Hm. Estou esperando ansiosamente nosso piquenique na New Forest”, Lua
disse brilhantemente. “Eu nunca vi tanta comida”. Ela não queria falar sobre a generosidade
de Arthur. Generosidade era algo mais perigoso do que a beleza.
Mel olhou para ela. “Devo dizer que o Conde Anton não parece tão demoníaco
como pensei”.
“Eu sei. E esse é o problema. Ele parece muito bonito para ser tão do mal.
Faz as pessoas ficarem pouco dispostas a acreditar o pior dele”.
“Há muita semelhança entre ele e o seu marido?”.
Lua concordou com a cabeça. “Os olhos de Rupert eram exatamente iguais aos
do Conde Anton—aquela cor de gelo cinza pálido. O cabelo de Rupert era dourado mais
escuro e ele era mais alto e mais largo: um touro grande, bonito e dourado”.
“Rupert parecia bastante atraente”. Mel fez uma pergunta sutil.
“Sim, ele era. Muito”.
“Eu estava tão preocupada com você. Você era tão jovem, tão protegida, e o
príncipe tão mais velho. Foi a hora em que mais lamentei ser pobre; não fui capaz
de viajar para ir ao seu casamento. Você deve ter se sentido muito só”.
Lua desviou a vista da janela para a paisagem no transcurso. “Você não
precisava ter se preocupado, Mel. O dia do meu casamento foi o dia mais feliz da
minha vida”.
“Oh, minha querida, fico tão contente”.
“Eu fiquei loucamente apaixonada por Rupert, se não a primeira vista—como
você tinha dito, eu era muito tímida e ingênua—mas nas semanas antes do
casamento. Ele me cortejou, enchendo de joias e presentes caros”. A maior parte
deles estava agora costurado na anágua dela. Ela não poderia se lamentar deles,
ao menos. Eles dariam a ela e Nicky uma nova vida.
“Rupert estava encantador, atencioso e galante”. Ela suspirou, lembrando.
Ela tinha ficado quase atordoada com a excitação de toda a situação, a atenção
constante tinha vindo junto com uma criatura tão magnífica e dourada. Ele tinha
quarenta anos, mas ela não achava que ele era muito velho, era apenas fascinante
e sofisticado. Divino.
“Era como ser Cinderela. Todo dia saíamos para as ruas da cidade e ele ma dava
flores, as pessoas acenavam com alegria e ele passava seu braço ao meu redor e
me beijava, e oh, Mel, era tudo o que nós já tínhamos conversado, tudo o que eu
já tinha sonhado. Ele era como Galahad e o Jovem Lochinvar e—bem, você sabe o
que eu quero dizer—tão romântico”.
“Minha menina querida, fico muito feliz em saber disso. Você não tem
nenhuma ideia dos tormentos que sofri quando seu pai te levou. Casar com um
homem tão mais velho, estava certa de que não poderia ser uma união feliz”.
Lua ficou muda e olhou para a janela.
Depois de vários momentos Mel aventurou, “Foi, não é? Se ele era tudo o que
você já tinha sonhado…”
“Não. Não foi. Eu estava em um faz-de-conta”.
“Oh”.
“Eu aprendi mais tarde que ele não me amava. Que nunca me adoraria. Ele nem
gostava muito de mim. O que ele fazia era apenas para se exibir, e porque ele
era tão bonito, encantador e experiente, e eu era apenas uma criança estúpida,
sonhadora, romântica e crédula—”, ela se interrompeu, o gosto familiar e amargo
da vergonha tinha subido a sua garganta.
Mel colocou as mãos sobre as de Lua. “Eu sinto muito, minha querida,
desculpe”.
Lua agitou a cabeça e tentou sorrir. “Faz muito tempo. Eu era outra pessoa na
época”. Ela ficou aliviada por Mel não ter perguntado como ela descobriu que
Rupert não a amava. Nem mesmo a Mel ela poderia revelar. Poderia ter sido há muito
tempo, mas algumas cicatrizes eram profundas. Elas ainda podiam causar dor.
“Você ainda é jovem”, Mel começou. “Pode tentar novamente—”
“Não! Eu não poderia aguentar!”, ela respirou para se controlar e disse em
tom leve, “não cometerei o engano de me casar novamente. Você não tem ideia de
como estou esperando ansiosamente para mandar na minha própria vida, podendo escolher
o que faço, como ou leio. Não desistirei da minha independência por nada”. Ela
deu a Mel um sorriso brilhante.
Mel, desenganada, não disse nada, apenas apertou a mão de Lua.
Lua olhou novamente através da janela, forçando-se a se recompor. Ela não
choraria. Ela tinha desperdiçado toda uma vida de lágrimas com Rupert.
Nunca mais. Nem com Rupert, nem com nenhum outro homem.
Nem mesmo um que fosse gentil.
Ela pegou um vislumbre do curricle adiante. Rupert era gentil com animais e
crianças, também. O modo como ele tinha tratado Nicky não tinha sido descortês—apenas
insensível. Ele tinha sido severo com Nicky para seu bem. Ele achava que assim estaria
fazendo a coisa certa.
A crueldade de Rupert estava no fato de não conseguir esconder sua decepção
com o filho.
Sem mencionar a esposa.
Eles entraram em
New Forest. Estava quieto na floresta, o bosque castanho e
luxuriante em pleno crescimento. As árvores estavam menos densas do que ela
esperava. Havia até remendos grandes nos espaços abertos onde cavalos selvagens
tinham pastado.
Em Zindaria, a floresta era mais escura, mais densa. O chalé de caça de
Rupert era no fundo na floresta. Ela só tinha estado lá uma vez.
O pior engano de sua vida.
Ele costumava ir à caça frequentemente, quase toda semana. Às vezes por
apenas uma noite ou duas, às vezes mais tempo. Dependia, ele disse, do jogo.
Ela pensou que ele queria dizer animais.
Mulheres não eram permitidas, ele tinha dito. Naquela época ela quase não queria
ficar longe dele. Sentia sua falta com uma dor quase física.
Ele já tinha ido há uma semana e ficaria mais outra.
Mas no princípio da segunda semana ela tinha recebido uma notícia
maravilhosa. Sua menstruação era normalmente tão regular quanto um relógio e
ela estava com duas semanas de atraso. Seus seios estavam tenros e um pouco
inchados. E há três manhãs que ela estava acordando enjoada.
Ela pensou que estava doente, mas sua empregada ficava toda excitada quando
ela ficava enjoada de manhã. Ela tinha questionado Lua, e então fora buscar o
médico do palácio.
Lua se lembrava da alegria que tinha sentido quando tinham falado que ela teria
um bebê.
Tão excitada que não podia esperar Rupert voltar para casa. Ele estava desesperado
para ter um filho, ela sabia. Ela tinha pedido uma carruagem e se dirigido para
a floresta, até o chalé de caça dele.
Ela se lembrava de cada momentos do trajeto da viagem. Era primavera,
também, com novas plantas crescendo ao redor. Havia cordeiros pequeninos com
cor de neve, balançando os rabinhos, potros desengonçados e delicados andando
ao lado das mães. Na floresta ela tinha até vislumbrado uma corça tímida, de
pernas bonitas. A vista tinha quase trazido lágrimas.
Ela se sentia eufórica com esse precioso mundo novo, fértil, generoso e bem
sucedido: ela iria ser mãe.
No chalé de caça ela não deixou os empregados de Rupert a anunciarem. Ela
queria fazer uma surpresa.
E ela fez.
Ele estava deitando meio nu em um tapete de pele espesso na frente do fogo.
Sendo montado por uma mulher nua, uma Valquíria voluptuosa, com cachos dourados
descendo em cascatas sobre suas costas nuas e acima de seus seios cheios. Estava
curvada sobre ele, roçando seus seios contra o peito nu dele, dizendo em uma voz
fina de moça, “Oh, Wupert, Wupert, eu te amo tanto, meu querido Wupert, eu sou
tão feliz, tão feliz, tão feliz, meu amado ickle-wickle Wupert”. Ela falou em
Zindarian, mas Lua não teve nenhuma dificuldade em reconhecer a imitação de seu
próprio sotaque inglês, nem o objeto dessa cruel imitação.
Ela mesma.
Lua ficou congelada, incapaz de se mover enquanto a mulher continuava, falando
em tom horrível de criança, imitando-a.
Ela vagamente se lembrava de pensar no momento que ela nunca o tinha chamado
de Wupert, nem dito qualquer coisa como ickle-wickle, ou usado aquela voz repugnante
de criança. O resto—o sotaque, as palavras, os sentimentos—eram horrível e
vergonhosamente precisos. Ela tinha dito aquelas mesmas frases para Rupert—mas apenas
em particular.
O único modo de a mulher tê-las ouvido era através do próprio Rupert. A alma
de Lua secou com dor e mortificação.
Quanto mais a mulher esganiçava sua imitação de Lua, quanto mais Rupert ria,
risadas profundas que ela nunca tinha ouvido vindo do marido antes, até que finalmente
ele tinha mandado a mulher parar, dizendo que já tinha ouvido o suficiente daquela
vozinha repugnante em casa, e lembrando a Valquíria que a razão pela qual ele
tinha vindo era para cair fora de tudo aquilo. Ele queria uma mulher, não uma criança
triste e estupefata de amor.
A criança triste e estupefata de amor limpou a garganta, chamando a atenção
chocada deles. Eles não fizeram nenhum movimento para se cobrirem, apenas a
encaravam do tapete de pele.
De alguma maneira—ela não tinha nenhuma ideia de como—tinha conseguido
manter a compostura. Um pouco de seu orgulho ancestral tinha enrijecido sua postura
de dezesseis anos de idade. Ela não faria uma cena. Ela preferia morrer a mostrar
sua dor e angústia na frente deles, na frente do marido que a traía tão cruelmente,
e na frente de uma criatura dourada tão nua e sem vergonha que a imitava tão horrivelmente.
Com a voz baixa e fria, Lua conseguiu anunciar que tinha vindo para informar
a Rupert que estava esperando um filho dele e que, agora que tinha feito isso, iria
retornar ao palácio.
Eles ainda não tinham se movido quando ela se virou e partiu.
Ela saiu andando naquele mesmo distante, em estado congelado—e ainda não tinha
nenhuma ideia de como tinha conseguido achar seu caminho de volta até a carruagem.
E uma vez segura do lado de dentro, quando a carruagem começou a se mover rapidamente
pela floresta, as lágrimas vieram.
Ela soluçou a distância toda até a casa, grandes soluços sufocantes que
escaldaram sua garganta e quase partiram seu tórax em dois, lamentando até fazê-la
ficar doente.
Repetidas vezes ela ouviu a voz da mulher desdenhosamente articulando os carinhos
preciosos que Lua tinha sussurrado na orelha do marido. A memória estava cheia
com o som dos risos de Rupert. Vozinha
repugnante, ele chamava.
Ela chorou e chorou. A floresta era densa, escura e antiga, e absorvia sua
dor, como tinha absorvido dores há milênios, e quando a carruagem se aproximou
do palácio Lua não tinha mais lágrimas.
Quantas pessoas no palácio sabiam que Rupert não a amava? Todos, ela
decidiu. Ela não tinha feito nenhum esforço para disfarçar seus sentimentos.
Ela estava cheia de carinho e felicidade e estupidamente tinha imaginado o
mundo inteiro compartilhado a felicidade dela.
Ela tinha sido feita de tola completa e absolutamente por causa dele.
Nunca mais, ela jurou. Nunca.
E ela tinha mantido seu voto. Quando Rupert retornara ao palácio—dois dias
mais tarde—e falara com ela, ela tinha se blindado contra ele, contra a
vergonha profunda dentro de seu corpo que ameaçava estourar.
Ele fez o que considerava um pedido de desculpas: tinha dito que sentia
muito por ela tê-lo encontrado com sua amante, mas que ela tinha sido informada
que seu chalé de caça era privado. Ela nunca deveria ter ido lá. De forma que
qualquer angústia ou embaraço que ela tinha experimentado, era sua própria
culpa.
Ela concordou. Calma e tranquilamente. Então ergueu sua costura em um sinal
claro de que pedia licença.
Ele pareceu aliviado.
Dali em diante ela o tratou com fria cortesia. Dois meses depois daquele
dia vil no chalé de caça ele a tinha felicitado por ela ter finalmente crescido.
Ele atribuiu isto a maturidade que vinha com a gravidez. Disse que se orgulhava
dela.
Quando Nicky nasceu, Lua despejou todo seu amor sobre a criança.
Rupert não tinha voltado a sua cama até seis meses depois do nascimento de Nicky.
Afinal, seu propósito principal era ter filhos. Eles se juntavam depressa,
completa, ou mais ou menos em silêncio, e então ele partia. Ele vinha uma vez por
mês, mas ela nunca mais tinha ficado grávida.
Mais tarde ela tinha ouvido que ele tinha dito às pessoas que apesar de sua
incapacidade de lhe dar mais crianças, ela tinha se tornado a esposa perfeita.
Ela olhou para New Forest através da janela. Essa não era a floresta escura
e muda de Zindaria, e ela não era mais aquela criança grávida e miserável, torturada
pela loucura de suas próprias emoções. Ela era uma viúva, tranquila, amadurecida
e livre para fazer da vida o que quisesse para ela mesma e para sua criança.
E pela sua própria paz, ela não se envolveria com nenhum homem.
Eles pararam para um piquenique em um local gramado e ensolarado ao lado do
fluxo de um córrego. Atrás deles a floresta se estendia, o sol brilhando
tranquilamente.
Mel e Lua espalharam tapetes, um pano e desempacotaram a comida, enquanto
os homens e meninos cuidavam dos cavalos. Thur deu a Nicky uma rédea e disse a ele
que levasse o cavalo à água.
Ele olhou de relance para Lua. No momento em que os olhos dele se encontraram,
ela desviou. Ela não tinha olhado diretamente para ele desde que ele tinha se oferecido
para matar o conde para ela.
Obviamente ele a tinha assustado. Não havia dúvidas de que ela tinha levado
sua declaração de ser um assassino a sangue frio seriamente. Ele decidiu fazer
algo sobre isso rapidamente.
“A Sra. Barrow se excedeu”, Thur comentou enquanto inspecionava a quantidade
de coisas.
“Sim, nós nunca conseguiremos comer tudo isso”, Mel concordou.
Havia ovos cozidos, sanduíches, uma grande torta de ovo e bacon, salsicha Dorset
caseira e galinha assada. Havia maçãs vermelhas e castanhos, tortas de geleia,
um bolo de ameixa, pesado e cheio da fruta, e além disso tudo, o bolo de maçã
da Sra. Barrow, o favorito de Harry. Havia também cerveja inglesa, cerveja vermelha,
vinho, chás frios e doces em
potes. A Sra. Barrow tinha pensado em tudo.
Thur riu. “Não creia nisto, senhorita Mel. Há cinco homens aqui que viveram
de comida racionada do exército por muito tempo para desperdiçar qualquer
coisa, muito menos a comida da Sra. Barrow”.
Ele se sentou ao lado de Lua e começou a arrumar as bebidas, enquanto
servia um por um os que chegavam. Ela não tinha mudado de lugar, apesar de ter imperceptivelmente
erguido a saia para longe de onde ela tinha tocado na perna dele.
Experimentalmente, Thur casualmente moveu a perna para que a tocasse
novamente. Novamente, sem nem mesmo olhar para ele, ela se moveu. Ela estava um
pouco tímida, certo. Mais tímida do que no primeiro encontro deles.
Quando Harry, Rafe, Micael, Chay, e Nicky juntaram-se a eles, a senhorita Mel
orou e todos começaram a comer.
Foi uma comida muito relaxada, e posteriormente, a senhorita Mel contou aos
meninos sobre New Forest, como a floreta tinha estado lá desde sempre, e como William,
o Conquistador, tinha decidido torná-la um lugar para a proteção dos cervos que
ele gostava de caçar, então ele tinha expulsado muitos dos habitantes humanos, colocando
animais acima dos humanos.
“Isso trouxe má sorte à família dele”, Rafe interpôs. “O filho dele,
William Rufus, fez leis muito rigorosas e terrivelmente mutilava aqueles que não
as cumpriam. Foi morto aqui mesmo na floresta”.
Micael acrescentou, “ele foi flechado, enquanto caçava com os amigos. Os
amigos abandonaram seu corpo onde ele tinha caído. Um queimador de carvão mais
tarde achou o corpo e o colocou em sua carroça”.
“E a moral da história, jovem Nicky“, Rafe terminou, “é se assegurar de que
você faça amigos verdadeiros em vida”. Os homens, juntos, ergueram suas taças e
fizeram um brinde à amizade verdadeira.
“Como vocês são”, Nicky disse.
“Realmente somos”, Thur disse a ele. “Guerra forja as ligações da amizade.
Eu pedi a Harry, Rafe e Micael para me ajudarem, porque você e sua mãe estavam
em apuros, e eles vieram, como sabia que viriam”.
“Chay me disse que no exército eles chamavam vocês de os Cavaleiros Infernais,
porque todos cavalgam como demônios. E nem mesmo o diabo poderia pegar vocês”.
Thur deu de ombros. “As pessoas gostam de falar. Todos nós adoramos cavalos
rápidos—é por isso que estamos começando essa aventura de corrida de cavalos”.
Mas Nicky não foi distraído. “Chay também disse que antes disto, eles
costumavam chamar vocês de os Anjos do Duque”, Nicky disse.
“Sim, o Duque de Wellington fez um comentário uma vez—ele estava usando despachos
no momento—e o nome pegou durante algum tempo. Havia cinco de nós então, mas o pobre
Michael foi morto”, Thur disse a ele. Todos fizeram um brinde a Michael.
“Por que anjos?”, Nicky perguntou.
“Talvez por causa de seus nomes, Nicky”, Senhorita Mel sugeriu. “Os
chamados anjos eram Michael, Arthur, Rafael, e…”, ela hesitou.
“Lúcifer, que era um anjo caído”, Micael explicou. “Eu sou Lucian de batizado,
que é bastante próximo”.
Nicky olhou para Harry, desapontado. “Então você não era um anjo, Sr.
Morant?”, Nicky estava rapidamente se tornando um dos admiradores mais
ardorosos de Harry, Thur pensou. Harry podia cavalgar melhor do que qualquer um
deles, e tinha uma perna ruim como o pequeno menino.
“Harry era um dos Anjos do Duque, sim”, Rafe disse. “Não era, Harold?”.
Harry deu um sorriso torto. “Eu era”.
Nicky pareceu perplexo. “A Inglaterra tem um anjo chamado Harold, então, mas
nós não temos um com esse nome em Zindaria”.
A senhorita Mel franziu o cenho. “Não, nós não temos na Inglaterra, também,
Nicky”. Ela girou para Rafe. “Eu nunca ouvi falar de nenhum anjo chamado Harold”.
Todos dos homens fizeram olhar de surpresa, Thur também. Era uma piada antiga.
Chay se debruçou adiante. “Claro que conhece, senhorita Mel. E você não
canta sobre ele todo Natal?”.
Mel fez uma carranca. “Eu não creio”.
Chay disse, “Então você não conhece a música ‘Hark the Harold Angels’?”.
A senhorita Mel bufou com pretensa desaprovação e então se juntou ao riso
geral.
Até Lua riu, Thur notou. O rosto dela tinha se iluminado brevemente. Ele estava
determinado a ficar a sós com ela, e descobrir o que a estava preocupando.
Depois do piquenique, Thur convidou Lua para ir no curricle com ele e
Nicky.
“Oh sim, mamãe”, Nicky interrompeu a conversa entusiasticamente. “Venha e me
veja guiar os cavalos. É tão divertido”.
Ela ficou presa em uma armadilha. Seu desejo de agradar o filho lutava
contra seu desejo de evitar Thur. O filho ganhou, como ele esperava, e ela se moveu
em direção ao curricle fingindo se sentir maravilhada.
Ela se manteve rígida quando Thur a ergueu até o curricle. Ele estava a
ponto de erguer Nicky quando na hora exata Harry apareceu a cavalo, perguntando,
“Nicky, você não gostaria de montar comigo um pouco?”.
Os olhos de Nicky se arregalaram. “Sim, por favor, senhor”, ele avidamente
respondeu, como Thur sabia que iria, e antes que a mãe de Nicky pudesse dizer alguma
palavra, Thur ergueu a criança na frente do irmão.
“Ele gosta de ir rápido”, ele disse a Harry, que piscou para ele e saiu.
Thur subiu agilmente no curricle ao lado da princesa e estalou as rédeas.
Por uma distância pequena ela não disse nada, então, “suponho que você esteja
muito contente consigo mesmo”.
“Realmente estou”, Thur concordou, os olhos cintilando. “Meu estratagema funcionou
perfeitamente. Seu filho está se divertindo muito e eu estou a sós com você. O
que poderia ser mais perfeito?”.
Ela não disse nada.
“Você esperava que eu negasse, não é?”.
Ela riu. “Nada que você me dissesse faria acreditar que você não tinha
planejado isso com o seu irmão. Eu passei os últimos minutos pensando em uma boa
maneira de ralhar com você, mas agora você baixou todas as minhas defesas”.
“Vá em frente, brigue o quanto te faça feliz”, ele convidou. “Prometo que ficarei
adequadamente abatido”.
Ela arqueou as sobrancelhas ceticamente. “Abatido o suficiente para parar o
curricle e me deixar retornar ao chaise?”
“Não, não tão abatido. Infelizmente eu sou muito bom em aceitar broncas.
Culpe minha experiência militar: as pessoas dão bons esporros no exército. Isso
meio que arruinou bastante a minha habilidade de ficar abatido”.
“Eu duvido que você seja particularmente abalável”.
Ele sorriu amplamente para ela. “Vê? Eu sabia que você teria gostado da tia-avó
Gert. Ela teria concordado com você nisso. Saiba que ela dava as melhores
broncas do mundo e fiou perto de me abater uma ou duas vezes”.
Ela riu novamente.
“Sim, assim é melhor”, ele disse. “Quando você subiu naquele chaise antes,
parecia tão pálida e abatida que eu pensei que estivesse doente. Mas boa comida,
um pouco de ar fresco e piadas te fez incrivelmente bem. O vermelho está
brotando nas suas bochechas novamente. E veja, a senhorita Mel também está assim”.
Ambos olharam para o assento que Mel dividia com Chay no assento do
motorista. Thur desejava que Chay soubesse o que estava fazendo, acolhendo tal companhia.
Chay deveria ter sugerido o acordo de assento para senhorita Mel: uma dama como
Mel nunca teria pensado em se sentar no assento com o motorista.
Thur franziu o cenho. Era incomum Chay conversar com damas respeitáveis.
Socialmente, os dois estavam em pólos opostos.
Chay tinha um charme rude, ele sabia. As senhoras da Espanha e de Portugal
certamente o apreciavam. Mas isso no tempo de guerra, e a guerra faz as pessoas
agirem de modos que não aprovariam em outras situações.
As coisas eram diferentes agora. Ele esperava que Chay se lembrasse disto.
Eles chegaram a uma clareira e ele imediatamente parou os cavalos. “Olhe”,
ele disse, apontando para onde um rebanho de pequenos cervos pastava na grama
pela extremidade da floresta. E eles viram os cervos sumirem entre as árvores.
“Acho que eles pensam que nós iremos atirar neles”, ela disse.
“Eu não sou realmente um assassino a sangue frio”, ele disse tranquilamente.
Ela deu a ele um olhar surpreso. “Eu não quis dizer—”
“Não o cervo; na outra manhã, com o conde. Você mal consegue olhar para mim”.
Lua desviou o olhar, aflita. Ele pensou que ela o desprezava por ter feito o
que fez. Ele estava tão errado. Era exatamente o contrário.
Ele continuou, “quando um homem começa a queimar casas de mulheres e assassinar
crianças, deve ser parado. Eu preferiria que a lei fizesse isto, admito, mas se
chegar a ser necessário, não vou vacilar para matá-lo. E isso não me incomodaria
a mínima”. Ele pausou e olhou para ela. “Mas eu nunca machucaria você, Nicky, qualquer
mulher ou criança”.
“Você pensa que eu não sei disto? Claro que eu sei que você não nos
machucaria. Você não tem sido nada além de gentil”. Se apenas uma pessoa em
Zindaria a escutasse, acreditasse nela, como ele tinha… mas eles não acreditaram.
Ela teve que viajar através de um continente e velejar através do Canal da
Mancha para achar este homem que acreditou nela, e sem vacilo se declarou seu defensor.
Realmente um Sir Galahad.
Mas como ela poderia dizer isto a ele, e não revelar o que estava em seu
coração? O que ela achava que poderia estar em seu coração, se ousasse olhá-lo.
Mas ela não ousava, não poderia. Ela não podia passar por tudo aquilo novamente.
Ele mesmo tinha dito—que protegeria qualquer
mulher, qualquer criança. É isso o que
um Galahad faz.
“Sinto muito, não estava propositadamente evitando você”, ela mentiu. “Eu
apenas tinha muitas coisas na mente”.
“Sei”. Ele pegou a mão dela na dele e a apertou. “Eu estava apenas preocupado
que minhas ações poderiam tê-la deixado com nojo de mim”.
“Nojo?”, ela exclamou. “Não, eu pensei que você era um herói!”.
“Eu não iria tão longe”, ele disse. “Contanto que você não fique com medo
de mim”.
Dependia da definição de medo, ela pensou.
Aquela manhã tinha mudado sua vida. Erguer-se contra o Conde Anton tinha
dado a ela um pequeno pedaço de seu orgulho de volta. Ela tinha feito algo que
nunca fizera antes; tinha se comportado como uma princesa governante. E as
pessoas tinham acreditado nela. Até o Conde Anton tinha.
Era um pensamento poderoso.
E quando Arthur disse que mataria Conde Anton para ela, ele tinha oferecido
a ela a escolha mais poderosa de todas: o poder sobre a vida e a morte. Para
proteger seu filho.
Ela não tinha nenhuma dúvida de que ele teria feito isto. E Arthur teria assumido
a responsabilidade, a culpa.
Ele sabia o que estava fazendo. Como não poderia um soldado, um oficial de
oito anos, não saber? E com o magistrado em suas costas, advertindo-o das
consequências. Um crime que o levaria a ser enforcado.
Por muito menos ele teria que fugir do país e viver como um exilado.
E ele teria feito isto por ela, por Lua.
Isso tinha ameaçado todos os tijolos cuidadosamente colocados na parede que
ela mantinha ao redor de seu coração desde que tinha saído daquele chalé de
caça oito anos antes.
Para ser vulnerável para um homem novamente?
Sim, ela estava com medo dele. Ele a deixava apavorada.
Eles pararam várias noites na estrada. A primeira noite Chay abordou Mel, e
perguntou se poderia ter uma palavra em particular com ela. Ela concordou.
“Senhorita Mel?”, o cômodo não era quente, mas Chay estava suando como um
porco.
“Sim, Sr. Suede?”.
“Eu estava me perguntando se…”
“Sim?”, ela balançou a cabeça de modo inquiridor.
Chay correu um dedo pelo colarinho. Estava extremamente apertado. Ele tinha
passado meia hora ajeitando-o, e agora a maldita coisa o estava sufocando. Ele limpou
a garganta.
“Senhorita Mel, como você sabe, estou planejando entrar nos negócios com o Sr.
Morant. E o Sr. Aguiar, claro”, ele acrescentou como uma reflexão tardia. Harry
Morant era a força motriz nesta aventura.
“Sim, eu sei. Parece uma aventura excitante”.
“É sim. O problema, Senhorita Mel, é que há… coisas… que preciso aprender.
Se eu quiser ser um companheiro nas mesmas condições que os outros, sabe. Não é
apenas uma questão de dinheiro. Ou conhecimento de cavalo. Ou trabalho”.
“Não?”.
“Não”. Ele queria arrancar o tecido do pescoço. Ele observou o cômodo.
“Senhorita Mel, eu quero contratar seus serviços”.
“Mas Sr. Suede, eu não sei nada sobre cavalos ou corridas de cavalos. Ou
negócios”.
“Não, não isto”. Ele retirou um lenço e esfregou a testa. “Como um
companheiro nos negócios há coisas que eu preciso saber, ser capaz de fazer
para andar em pé de igualdade com as pessoas com as quais estarei lidando”.
Ela parecia perplexa, então sua testa desanuviou. “Você quer dizer que deseja
que eu te ensine a se portar em uma sociedade refinada?”.
“Não”. Ele fez um gesto desdenhoso. “Eu fiquei ao redor o suficiente de oficiais
para saber imitar um cavalheiro”.
“Sr. Suede”, ela disse com reprovação viva. “Você não tem nenhuma
necessidade de ‘imitar’ um cavaleiro, como disse. Você é verdadeiramente mais cavalheiro
do que muitos homens na sociedade. E acredite em mim, eu sei”.
“Obrigado”, ele disse depois de um momento. O elogio inesperado o laçou—e
ele já estava meio desequilibrado. Ele retornou ao ponto principal. Ele iria
acabar com isso, mesmo que isso o matasse. “Para dizer a verdade, senhorita Mel,
eu não tenho nenhum desejo de ser o que não sou, mas há coisas que desejo
aprender. E quero contratá-la para me ensinar”.
“Mas, Sr. Suede, o que eu possivelmente poderia te ensinar?”.
Chay respirou fundo. “Livros”, ele conseguiu dizer. Proto, tinha saído.
“Livros? Que livros?”.
“Qualquer livro. Todos eles”.
“Eu não entendo”.
Chay se ergueu como se estivesse enfrentando um pelotão de fuzilamento e
disse, “eu não sei ler, senhorita Mel. Ou escrever”.
Ela não disse uma palavra.
Depois de um momento ele olhou para ela. Os olhos marrons dela estavam largos
e firmes em seu rosto. “Sr. Suede”, ela disse suavemente, “eu ficaria honrada
em ensiná-lo a ler e a escrever”.
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