Capítulo X.
Lua estava entediada. Ela tinha passado a manhã toda costurando, e agora queria
fazer outra coisa. Os livros na biblioteca não a atraíam—parecia que a tia-avó
Gert tinha desdém por leitura de assuntos frívolos do tipo que Lua e Mel adoravam,
porque não havia uma única novela—e ela não tinha cartas para escrever e
ninguém com quem conversar.
Ela tinha se oferecido para ajudar a Sra. Barrow a organizar as criadas,
uma oferta que tinha sido recebida com horror. Uma princesa, para cuidar de um
grupo de meninas tolas e inúteis a fazerem seu trabalho? Céus! E a Sra. Barrow
tinha feito um alvoroço.
A princesa, sentindo uma certa afinidade com as meninas tolas e inúteis, tristemente
voltou a sua costura.
Um grito e ruídos de cascos no pátio do lado fizeram-na saltar e correr para
a janela. No pátio, dois cavalos estavam caminhando ao redor em um quase
círculo, os cascos batendo nas pedras. Arthur estava no meio, observando, dando
instruções.
Jim estava agarrado na parte de trás do primeiro cavalo como um pequeno macaco,
o rosto vivo com excitação.
O filho dela estava sentado atrás do segundo cavalo, pálido e com as costas
retas, seu rosto estava firme com ansiedade, as mãos em forma correta.
Lua apertou a mão contra a boca. Quantas vezes ela tinha visto esta cena
antes, o prelúdio para o momento em que Nicky colidia no chão, largado e com vergonha,
um novo fracasso.
Arthur gritou algo e ela viu Nicky endurecer a rédea fazendo o animal parar.
Com o rosto congelado, ele esperou enquanto o homem alto andava a passos largos
através do pátio, com o cenho franzido.
Se ele ousasse gritar com o filho dela… Lua estava firme, pronta para voar em
defesa de Nicky.
Ele ficou no outro lado do cavalo, perdendo tempo com algo, e de repente
ela percebeu que ele estava ajustando o estribo. Lua piscou. Ela não tinha notado
que havia uma sela. Todas as outras vezes que seu filho tinha sido colocado sobre
um cavalo tinha sido em pelo.
Arthur disse algo e andou para trás. Nicky deu a ele um olhar surpreso,
então sorriu amplamente. Ele fez um movimento e o cavalo se moveu.
Lua assistiu.
Enquanto os cavalos se moviam em torno do pátio, a rigidez de Nicky
enfraqueceu. Seu rosto perdeu o olhar congelado, e ele até começou a gritar
observações para Jim. Lua desejou poder ouvir o que eles estavam dizendo, mas
ela estava colada na janela octogonal.
Arthur disse qualquer outra coisa, e os meninos colocaram os cavalos num
trote. Por um momento ofegante, Nicky saltou instável, agarrando-se, o branco em
seu rosto com a expectativa de cair, mas Arthur gritou um conselho e de repente
Nicky estava subindo e descendo junto com o ritmo do cavalo.
Ela estava mordendo as juntas dos dedos, percebeu. Mesmo daqui ela podia perceber
o orgulho em seu porte. Ele estava montando. Não em pelo, não rápido, mas sozinho
e sem ajuda.
Ele olhou de relance para a janela e a viu assistindo. Os olhos dele se iluminaram.
Com grande ousadia, ergueu uma mão e depressa acenou para ela, o rosto pequeno
incandescente com alegria.
Lua acenou de volta, desejando que ele não pudesse ver as lágrimas em seus
olhos. Nicky retornou a sua lição com determinação renovada.
Lua moveu o olhar para o homem alto no centro do pátio. Ele estava
observando-a, uma expressão enigmática no rosto.
Ela moveu a boca para dizer “obrigada” e ele deu seu um sorriso lento antes
de se voltar para os meninos.
Ela permaneceu assistindo enquanto um nó se formava em sua garganta e um caroço
duro brotava no meio do peito. Iria ser mais difícil se proteger dele do que
ela tinha pensado.
Ele tinha um jeito de passar furtivamente pelas defesas dela.
De repente houve agitação e barulho de movimento do curricle dirigido por Chay
Suede que entrou com tudo passando pelo arco e chegando ao pátio. Os cavalos se
espantaram e os dois meninos se seguraram em suas crinas, todas as instruções esquecidas,
mas, ainda bem, ninguém caiu.
Arthur andou a passos largos adiante, tirou primeiro Nicky, e depois Jim,
deu as rédeas aos meninos e ordenou que eles levassem os cavalos para os
estábulos. Lua podia ver o porquê.
Chay tinha a cara de uma nuvem de tempestade. Mel estava sentada na cadeira
ao lado dele, firme e totalmente vertical, o rosto apertado e incolor.
Algo estava horrivelmente errado. Lua correu da sala.
Seu medo inicial—que o Sr. Suede tivesse feito algo terrível com Mel enfraqueceu
quando ela viu o modo gentil como ele a tirou do alto curricle, como se ela
fosse uma criança, ou uma inválida.
O rosto de Mel estava pálido, mas ela não deixou de perceber as mãos grandes
do irlandês em sua cintura. Ela murmurou um automático ‘obrigada’ a ele e ficou
de pé, olhando inexpressivamente para sua frente.
“Mel, o que foi?”, Lua perguntou enquanto ia apressada na direção da amiga.
Mel tentou falar e falhou. Ela tragou, então tentou novamente. “Meu chalé”,
ela conseguiu dizer. “Está todo queimado. Até o chão. Não sobrou nada, apenas carvão
e cinzas”. E então ela repentinamente começou a chorar. Lua a conduziu para o
lado de dentro.
“Não sobrou nada mesmo?”, Thur perguntou a Chay depois que as duas mulheres
entraram na casa.
“Nada”.
Como eles sabiam, isso era improvável de acontecer, mesmo sendo um chalé de
sapê. “Então, foi deliberado?”.
“Diria que sim”, Chay disse, o rosto
sinistro. “Verifiquei a casa antes de partirmos. Não havia nada. Nem uma faísca
na lareira—tudo varrido e limpo, sim estava”.
“Aqueles bastardos! Vingança, você não acha? Eles queriam a princesa e ela escapou
deles, então queimaram totalmente a casa da amiga dela”.
Chay anuiu com a cabeça. “Provavelmente. E talvez eles quisessem queimá-la
também. Desejando que ela os levasse até a princesa. Nada mais natural ‘duquê’ ouvir
que sua casa fora queimada ‘pra’ ir lá e olhar. Eu mesmo tive um trabalho dos
diabos para impedir que a senhorita Mel saltasse do curricle para ver. Apavorada
‘cum’ seu pobre e ‘piqueno’ gato e seus livros, ‘tava’ sim”. Pelo tom de Chay
ele não entendia como alguém não se preocuparia também.
“Aquele ‘pobre pequeno gato ‘ é a coisa mais feia que você verá na vida”, Thur
disse a ele. “Um gato
amarelado cheio de marcas de batalhas, com o rabo quebrado e”—ele olhou de
relance para Chay— “e as orelhas um pouco parecida com as suas”.
Chay começou a selar um cavalo descansado.
“Aonde você vai?”, Thur perguntou.
“Vou voltar e verificar”.
“Verificar o quê?”.
Chay deu a ele um olhar opaco. “Algo”. Ele montou no cavalo e saiu por onde
tinha entrado.
Uma hora mais tarde Lua veio ao andar de baixo. “Ela está descansando agora”,
ela disse a ele. “Pobre Mel. Ela perdeu tudo”. Ela pendeu a cabeça. “Eu nunca
deveria ter escrito para ela, nunca deveria ter vindo aqui”.
“Não é sua culpa”, Thur disse a ela firmemente.
“É sim. Eu sabia que o Conde Anton era assim”. Culpa misturada com raiva
chamejava através de seu rosto. “Não é a primeira vez que ele queima a casa de
alguém. Ele tem o temperamento terrível e não suporta ser zangado. Mas te prometo
que nunca imaginei por um momento sequer que ele faria algo assim aqui na
Inglaterra, onde não é membro da família governante”. A voz dela se sufocou
para um soluço. “É minha culpa que isso tenha acontecido a ela”.
“Não é sua culpa”.
Ela desviou o olhar. Uma lágrima errante deslizou pela bochecha. Ela a
secou furiosamente.
Thur a agarrou pelo queixo. “Olhe para mim. Isto não é sua culpa”.
“Eu sou responsável. E Mel é minha amiga. Ela agora está na miséria porque
tentou me ajudar. Você não acha que eu poderia simplesmente partir e deixá-la à
própria sorte”.
Não, Thur não imaginava isto. Nem por um minuto. Sua Lua… sua Lua era uma
mulher em um milhão.
Ele a puxou para seus braços e a segurou por um longo momento. Então ele
suavemente levantou o rosto dela marcado pelas lágrimas e a beijou. Ele beijou
as lágrimas das bochechas dela e a angústia de seus lábios. Não foi como o
último beijo; isto era conforto. Reconfortante. E terno.
Oi sou leitora nova to amando seu blog
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