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terça-feira, 11 de março de 2014

Cap 9-1 "A Princesa Roubada"


Capítulo IX.

Ele a pegou desequilibrada e desatenta. Ela ofegou e tentou se soltar dos braços dele, mas eles se fecharam em volta dela. As mãos dela se apertaram contra o peito dele. Ela podia sentir o ritmo da batida do coração dele, mais rápido do que antes.
Um dos braços dele circundou a cintura dela, o outro deslizou devagar através da coluna, fazendo-a sentir calafrios com o calor das mãos dele. Ele parou finalmente na nuca dela. Ele a acariciou gentilmente com um dedo, ligeira e ritmicamente, fazendo com que as sensações fluíssem de cima a baixo pela coluna dela.
“O q—que você está fazendo?”, ela conseguiu dizer.
“Mostrando a você”. A voz dele era funda, suave e firme.
“Mostrando o quê?”.
Ele não respondeu, não em palavras, mas ela o sentiu trocar de posição e de repente ela pôde sentir as coxas duras e fortes dele fechando-se em volta das dela. O calor do corpo dele passava até o corpo dela através do vestido fino. Os odores do unguento na pele dele se intensificaram. Iria manchar o vestido dela, ela pensou, mas de alguma maneira ela não conseguia se forçar a se mover.
Assim de perto ela podia ver que os olhos dele não eram simplesmente azuis, mas azuis com minúsculas manchas douradas, e rodeado por um azul mais escuro. As manchas eram o que fazia os olhos dele dançarem, ela pensou. Eles não estavam dançando agora. A íris estava escura e grande, e parecia trazê-la para mais perto, como o olho de um redemoinho.
Sob as pontas do dedo dela o coração batia constantemente. Ecoando na mente e no corpo dela. Ela podia sentir o ritmo da batida através das coxas, peito,e músculos dos braços que a cercavam e no calor da barriga dele apertada contra a barriga dela.
Ela olhava fixamente os olhos dele, hipnotizada. O modo que ele olhava para ela, fazia com que ela se sentisse nervosa e estranhamente fraca. Ela mal conseguia respirar. A respiração dela estava entrando em arfadas curtas.
Os lábios estavam secos. Ela os umedeceu com a língua e o olhar dele desceu até os lábios dela.
E com uma lentidão, agonizante e insuportável, ele curvou a cabeça e, ligeiramente, chocantemente, lambeu os lábios dela. Apenas um toque, mas ela estremeceu totalmente, o estremecimento se reunindo, dolorosamente, em algum lugar bem profundo de seu ser.
“Seus lábios são tão suaves, tão sedosos”, ele murmurou e começou a tocar os lábios dela como uma pluma com minúsculos e atormentantes beijos. “Surpreendente, considerando o que você faz com eles”.
“Eu não faço nada com eles”, ela conseguiu dizer, estremecendo deliciosamente enquanto ele plantava beijos ao longo do queixo dela.
“Oh, mas você faz”, ele exalou, e ela pôde sentir a respiração morna dele em seus lábios úmidos, como um eco do beijo, como o luar depois da luz do sol. “Você está sempre mordendo eles”.
Ela não conseguia pensar em nada para dizer. E tudo o que ela podia fazer era se manter de pé. Ela se segurou nos ombros dele como um suporte. Largos e lisos, firmes como uma rocha. A mão dela deslizou no unguento pegajoso.
“E se você deve mordê-los”, ele continuou, a voz funda vibrando contra a pele dela. “É assim que deve fazer”. Ele mordiscou os lábios dela até que eles se separaram, então ele tomou o lábio inferior dela muito suavemente entre os dentes e o mordeu suavemente, repetidas vezes, banhando-os e chupando-os entre cada mordida.
Com cada minúscula mordida, várias sensações passavam pelo corpo dela, como onda após onda, diretamente até o centro de seu ser. Os joelhos dela vacilaram e ela se sentiu sacudir e estremecer indefesa nos braços dele, como se ela tivesse sido tomada por algo. Ou por alguém.
No momento em que ele soltou os lábios dela, ela jogou a cabeça para trás, chocada consigo mesma. Ela empurrou o peito dele e ele a deixou ir. Ela cambaleou para trás, havia algo de errado com seus joelhos. Ela achou uma cadeira e se sentou com um baque, ofegando para respirar, para conseguir algum vestígio de controle.
Ele deu um gemido suave.
Ela olhou fixamente para ele. “Eu te machuquei?”.
“Sim”. O peito dele estava arfando, a voz rota. Os olhos presos nos dela, escuros, como uma meia-noite azul.
Ela esquadrinhou o corpo dele. Quem saberia o que ela tinha feito com ele? Ela tinha estado completamente fora de controle. “O que eu fiz?”.
“Você parou”.
Ela não entendeu. “Como isso poderia te machucar?”, as emoções dela estavam em tumulto. O que tinha acabado de acontecer?
Ele acariciou a bochecha dela com um dedo. “Ele não foi um bom marido para você, não é?”.
Ela piscou com a mudança abrupta de assunto e empurrou a cabeça para longe da mão dele. Até mesmo o toque de um dedo dele fazia com que ela sentisse calafrios. “Rupert? Sim, ele foi um bom marido. Ele me deu Nicky. E ele nos protegeu”. Ela respirou várias vezes profundamente e juntou os fragmentos de sua compostura.
“Mas você não era feliz”.
“Claro que era. Eu era a princesa da coroa, a dama mais nobre das terras. Toda menina quer isto”. Ela estava muito mais tranquila agora que tinha voltado a território familiar. Desde que ela não olhasse para ele. Ou o tocasse. Ou cheirasse aquele unguento. Ela limpou as mãos na saia. De qualquer maneira, estava arruinada.
“Não você. Você não daria a mínima para isto”.
“Como você saberia?”, ela desejou que ele parasse de olhar para ela. Embora estivesse com a cabeça virada, podia sentir o calor do olhar dele.
“Uma menina que gostava de sua posição não deixaria alguém como a Sra. Barrow chamá-la de querida. Não deixaria seu filho precioso fazer amizade com um mísero filho de pescador. Não deixaria tudo para trás sem pestanejar”.
Ela não disse nada. Estava tranquila e tinha voltado ao normal, pensou. Ela nunca mais deveria deixá-lo fazer aquilo com ela novamente.
“Ser a princesa não te fez feliz, e não acredito que ele a tenha feito, também”.
“Você está errado”, ela relampejou. “Eu fui feliz. E amei meu marido, amei sim”. Ela tinha prometido isso no dia do casamento e tinha feito, realmente tinha. Com seu tolo coração de dezesseis anos de idade.
“Entendo, então era o sonho de amor de uma jovem?”.
A boca cambaleou e ela deu as costas para ele. Ela foi até o fogo, pegou um atiçador, moveu-o energicamente no fogo. Fuligem voou pelo cômodo.
Depois de alguns minutos ela derrubou o atiçador. “Nós sairemos de manhã”, ela anunciou.
Ele suspirou.
Ela franziu o cenho. “O quê?”.
Ele agitou a cabeça. “Nada. Apenas desejava estar aqui quando Harry chegasse. Depois de amanhã”. Ele deu um olhar inclinado para ela.
Lua olhava fixamente para ele, incapaz de acreditar no desaforo do homem. Sem dúvida era por isso que ele a tinha beijado assim, para suavizá-la. “Deixe-me colocar tudo às claras”, ela disse. “Primeiro você guarda a minha bagagem longe para me forçar a atrasar a minha partida, então você joga sua companhia sobre mim—não desejada!—para a jornada, e agora tem o desplante de sugerir que eu espere mais outros dois dias?”.
Ele concordou com a cabeça, os olhos azuis dançando. “É assim, em poucas palavras”.
“Porque você quer que eu conheça o seu irmão”.
“Sim”.
Ela o encarou.
Depois de um momento ele acrescentou, “Ele é um irmão muito agradável. Gosto dele”. Ele não parecia nem ao menos um pouco envergonhado.
“Não fico surpresa por você ter sobrevivido à guerra”, ela disse afinal.
A boca dele se crispou. “E por que isto?”.
“Porque você, obviamente, nasceu para ser enforcado”, ela disse a ele. “Ou estrangulado. Fico espantada por ninguém ter te estrangulado ainda. Que você seja o fugitivo de um enforcamento, não me surpreende completamente—autoridades do governo são raramente eficientes, já percebi. Você pode esperar pelo seu irmão o quanto quiser. Nicky e eu partiremos amanhã de manhã cedinho”.

Thur a viu sair da sala, a boca seca com o balanço dos quadris dela. O corpo dele estava desperto e cheio de desejo e ele se sentia ao mesmo tempo frustrado e exultante.
Ele colocou uma camisa, e então se sentou na escrivaninha no canto, pegou uma pena, e começou a afiá-la com uma pequena faca com uma pérola no final da empunhadura. A mente dele continuava revivendo aquele beijo, mas se forçou a considerar o que tinha aprendido sobre ela.
Ele não queria afligi-la, não queria provocar memórias dolorosas. Mas suas perguntas produziram respostas tão esclarecedoras que ele não conseguia lamentar tê-las feito.
Mais fascinante era a resposta para a pergunta que ele não tinha feito. Ela a tinha respondido com tal veemência, também. E amei meu marido, amei sim.
Era a verdade? Ou, parafraseando o Bardo, ela tinha protestado demais?
E ele se importava de alguma maneira? Afinal, o homem estava morto.
Era bizarro, Thur refletiu. Ele a conhecia há tão pouco tempo e sabia tão pouco sobre ela, e ainda assim, de alguma maneira, ela tinha se tornado muito importante para ele. E não era apenas luxúria, apesar de que ele ficasse atacado com luxúria o tempo todo em que estava com ela. Aquela boca ainda causaria sua morte.
Ele gemeu só de pensar no gosto dela, sua resposta doce, frenética. Ela quase tinha se dissolvido nos braços dele. Se eles não estivessem de pé, ela já poderia ter sido dele.
Ele já tinha ficado em estado de luxúria várias vezes antes, e nunca tinha entrado em pânico ao pensar em uma mulher partindo. Ele nunca tinha ficado apavorado na vida, muito menos por causa de uma mulher. Mas pelo sentimento no peito dele quando ela declarou que estava partindo, ele estava quase certo de que tinha sido algo similar a pânico.
O soldado nele imediatamente reagiu para assegurar sua posição; ele tinha tomado as bagagens dela. Guardando-as até que ela desse sua palavra a ele. Não foi um dos momentos mais gloriosos da vida militar dele.
Foi só posteriormente que ele analisou suas ações. Tinha ficado chocado ao perceber, mas  estava lá, claro como água em sua consciência.
Depois de tão pouco conhecimento ele não tinha direito de pensar o que estava pensando, ou fazer os planos que estava fazendo. Mas ele parecia fazê-los mesmo assim. Ele não conseguia ser capaz de evitar.
Tudo inconsciente, como um franco-atirador na escuridão ela o tinha acertado habilmente no coração.
Ele não tinha nenhuma ideia de que as coisas poderiam acontecer desse jeito. Ele nunca tinha feito planos de se acomodar, nenhuma vez tinha considerado casamento.

Casamento? Com certeza, não. Não podia ser.

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