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segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Cap 6-2 "A Princesa Roubada"


Parte 2

“Ali é West Lulworth, abaixo, e lá é a Enseada de Lulworth”. Arthur gesticulou com a alça do chicote. Eles estavam viajando no curricle dele, um veículo pintado de cinza escuro com detalhes cor de cereja e puxado por dois cavalos cinza.
 “Que vista adorável”, Lua exclamou, olhando para a extensão em forma de ferradura perfeita de água além das casas de campo afastadas cobertas com palha. A enseada de Lulworth brilhava deslumbrantemente azul sob os raios de sol. Era pontilhada com alguns pequenos barcos de pesca e um grande, liso, lustroso e branco.
“Onde exatamente a sua amiga vive?”, Arthur perguntou.
“Uma casa chamada Rose Cottage. Fica a oitocentos metros do oeste da aldeia. Há uma espécie de mapa aqui”. Lua pegou uma carta de seu estojo e a deu para ele.
Chay Suede montava ao lado do curricle, em seu cavalo grande, feio e feroz. Isso combinava com ele, Lua pensou. O Sr. Suede parecia um homem que tinha vivido uma vida dura. Ele tinha o nariz grande que tinha sido quebrado mais de uma vez, várias cicatrizes no rosto e nas mãos, um dente lascado, e uma orelha que parecida ter sido mastigada. O cabelo era espesso e escuro, começando a ficar cinza nas têmporas, e cortados extremamente curtos—para esconder o fato de que eram ondulados, ela suspeitou. Ainda assim seu colete era esplêndido, com pouca ostentação e botas polidas cintilando.
“Bom trabalho que está fazendo, jovem Nicky”, Suede gritou. “Não parece que é sua primeira vez com as tiras!”, Nicky endireitou as costas e deu um aceno com a cabeça rápido e tímido de reconhecimento.
Lua passou a gostar de vez do homem. Apesar de sua aparência áspera, o Sr. Suede tinha um coração amável. Quase tanto quanto Arthur.
Arthur tinha decidido passar pela jornada mostrando a Nicky como dirigir um par de cavalos, demonstrando e explicando com voz baixa e profunda. Então, nesta parte aberta da estrada, tinha dado as rédeas a Nicky, mostrando a ele como segurá-las e deixando que ele sentisse sozinho como era fazer. Nenhuma série de conselhos para fazer o menino nervoso, nenhuma ansiedade. Ele simplesmente se sentou, confiando a Nicky seu par de preciosos cavalos cinza.
“Sim, ele é natural”, Arthur concordou, lendo a carta. “Lida com as rédeas de um modo bem sutil”.
Lua viu o filho dar um olhar para o homem grande ao lado dele, tentando avaliar se o elogio era genuíno ou não. Ele quase visivelmente inchou com orgulho quando girou o olhar de volta para a estrada, franzindo o cenho com concentração feroz.
Lua mordeu o lábio. Por que o pai dele não poderia ter oferecido tais conselhos e elogios tão casuais? Lua não conseguia se lembrar de uma única vez que Rupert tivesse dito ao filho que ele tinha feito algo de bom. Aos olhos do pai, Nicky nunca era o bastante: era um aleijado, assim como um herdeiro desmerecedor.
Era irônico que aqui, no meio de estranhos, o filho começasse a florescer. Ambos os homens, muito diferentes, tinham mostrado a Nicky uma aceitação casual e um tipo de generosidade impassível que apenas homens que estavam muito certos de si mesmos poderiam mostrar a um menino tímido e cheio de necessidades.
Depois de uma breve olhada na carta de Mel, Arthur tomou as rédeas de volta de Nicky e entrou em uma estrada estreita, enrugada. Depois de alguns minutos, eles chegaram a um chalé coberto de rosas. Era no fim de uma estrada barrenta, muito estreita para o curricle passar. A porta da frente não era visível, mas em uma janela, uma cortina tremulava e se contraía.
“Há alguém em casa”, Arthur observou.
“Vou lá perguntar”, disse Chay Suede, e foi pelo caminho com seu cavalo. O jardim era tão limpo e bem ordenado quanto um retrato, Chay pensou. Os passos dele raspavam no caminho cinza que o levava em torno da entrada.
A porta da frente tinha uma alavanca de metal bem polido. Chay deu uma batida rápida. Estava ciente de estar sendo observado.
Houve uma pequena demora antes de a porta se abrir apenas uma fresta. Uma pequena mulher pálida e de olhar severo com cerca de trinta e cinco anos estava de pé, parecendo… brava?
“Eu que posso ajudar?”, ela disse. Seu tom de voz estava em contradição direta com sua expressão. Ela dava a ele um olhar fixo e intenso e, de maneira furtiva, tirou um pedaço de papel da manga e o mostrou a ele.
Chay olhou de relance para o papel. Não significava nada para ele. “Bom dia para você, madame, estava me perguntando se aqui seria—?”
Ela agitou a cabeça, olhando fixamente para ele com tal intensidade que ele pensou que os olhos dela poderiam saltar, e empurrou o papel para ele. Perplexo, ele o pegou. “E o que você gostaria que eu fizesse com—”
Para a surpresa dele, ela ergueu a mão e apertou os dedos firmemente contra a boca dele. “Eu sinto muito”, ela disse com uma voz clara, “mas o lugar que você quer fica do outro lado da aldeia. Você perdeu sua viagem. Deve dar meia volta e ir para o outro lado”. Ela o empurrou urgentemente com a mão, encarando-o, e revirando os olhos, primeiro para direita e depois para a esquerda.
Chay fez uma carranca e então percebeu. Ela estava em apuros. E estava tentando mandá-lo embora.
Com voz tranquila e gentil ele disse, “Bem, aquele companheiro me deu direções erradas. Desculpe por tê-la aborrecido, madame. Veja, estamos procurando um garanhão — Thunderbolt—talvez já tenha ouvido falar dele, madame? Foi um campeão, e agora é de propriedade do Sr. Blaxland, da Fazenda Rose Bay. Estou indo, e obrigado pela sua ajuda”. Ele fez um aceno com a cabeça e saiu andado relaxadamente pelo caminho, assobiando por entre os dentes. Ele a ouviu fechar a porta.
Sr. Suede montou no cavalo e saiu trotado até o curricle.
“Não era a casa da Mel, então?”, Lua disse.
Chay agitou a cabeça ligeiramente e foi andando vagamente adiante. Ele levou o cavalo para longe.
“Sr. Suede?”, Lua o chamou.
Ele não respondeu até que eles tinham sumido cuidadosamente a colina. Então ele parou e girou para ela. Depois de um momento disse, “A sua Mel—tem mais ou menos trinta e cinco anos, é pequena, bonita, com cabelo e olhos marrons e olha para os homens como se eles fossem mais inferiores do que uma lombriga?”.
“Sim!”, ela exclamou. “Essa é exatamente a minha querida Mel. Por que estamos partindo, então, se ela está lá atrás?”.
“Porque sua querida Mel está em apuros”, Chay Suede disse a ela. “Ela fez o máximo que podia para se livrar de mim agora mesmo. Ela me deu isso”. Ele passou a ela o pedaço de papel.
Lua leu a nota. “Oh meu Deus. É minha culpa”. Ela esmagou o papel entre os dedos enervados.
Ela tinha ficado bastante branca, Thur percebeu. “O que diz?”, ele perguntou, mas ela não estava ouvindo.
Suavemente ele livrou o papel dos dedos dela e leu a nota em voz alta. “Socorro. Estou prisioneiro de um grupo de estrangeiros perigosos. Por favor, informe as autoridades. Senhorita J. Melanie. Rose Cottage”.
Thur olhou para Lua. “E você sabe quais são esses estrangeiros perigosos, não sabe?”.
Ela se arrepiou e concordou com a cabeça. “O Conde Anton e seus homens. Ele é primo do meu marido”. Ela deu a ele um olhar desanimado e disse em tom baixo. “Ele—ele quer Nicky morto. Eu, também, suponho”.
“Bem, ele não vai conseguir”, Thur disse a ela calmamente, “Então pare de parecer tão miserável. Agora, diga-me, quantos homens ele, provavelmente, tem?”.
Ela agitou a cabeça sem poder ajuda. “Não sei”.
“Minha suposição é que haja três ou quatro naquele chalé”, Chay disse. “Não se preocupe, madame”, ele acrescentou. “O capitão tem um plano”.
Ela girou para Arthur. “Você tem?”.
“Tenho”, Thur disse com um sorriso lânguido. “Não se preocupe, nós tiraremos sua amiga em segurança de lá”.

Ele falou com uma confiança tão tranquila que Lua ficou preocupada. Conde Anton era desumano, malévolo, e aqui, onde ninguém o conhecia, ele nem precisaria fingir ser outra coisa.

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