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quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Cap 1-1 "A Princesa Roubada"

Capítulo I. - Parte 1

Dorset, Inglaterra, 1816.

“Melhor não ir para casa pela trilha do precipício, Capitão Aguiar. Está para cair uma tempestade, e sem a lua, o caminho é traiçoeiro”.
Arthur Aguiar, o último dos Dragões da Luz da Décima Quarta Cavalaria, lançou um olhar apressado para o céu que escurecia e encolheu os ombros. “Há tempo suficiente antes da tempestade chegar. Noite, senhor”. Ele saiu da taverna pequena e aquecida e foi até os estábulos.
Uma mulher loira, animada e peituda, empregada da taverna o seguiu para fora e deslizou um braço amigavelmente através do dele. “Por que se arriscar pela trilha do precipício, Capitão, quando eu tenho uma cama no andar de cima aquecida e confortável?”.
Thur sorriu. “Obrigado, Sally. É uma oferta generosa, mas eu preciso ir”, ele devia estar ficando velho, Thur decidiu enquanto montava. Para escolher montar um cavalo pela escuridão gelada, até uma casa vazia, quando poderia montar uma loira cheia de curvas no calor confortável da alcova dela…
Apesar de ele desejar um caso descompromissado, uma simples transa não mais o atraía. E quando o demônio da depressão o atingia, como tinha feito novamente esta noite, nenhuma bebida ou mulher poderiam ajudá-lo.
Nada além da escuridão, da velocidade e do perigo poderiam deixar sua mente e coração desanuviados.
Hoje à noite o diabo da depressão estava importunando-o mais do que nunca. A conversa na taverna tinha chegado até o assunto dos homens que não tinham voltado para casa, para as famílias que se esforçavam para continuar sem eles; contemporâneos de Thur, meninos com os quais ele tinha crescido, garotos que os tinham seguido, a ele e a Harry, para a guerra. “Eu cuidarei deles”, ele tinha dito tão alegremente quando eles tinham partido…
Mas ele não tinha feito isso.
Por que, entre todos, justo ele tinha retornado? Os outros rapazes tinham sido lamentados, tinha recebido o luto, sentiam a falta deles desesperadamente. Eles eram necessários às suas famílias.
Não Thur.
Ele galopou mais rápido através das sombras passageiras. O caminho estreito, banhado pela lua desapareceu e nuvens espessas obscureceram a lua cheia. As ondas bateram nas rochas abaixo. A névoa de sal salpicou a pele de Arthur que montava na tênue linha entre a vida e a morte, como tinha feito tão frequentemente antes, dando ao destino uma chance de mudar de ideia.
Provando a si mesmo, novamente, apesar de tudo, que ele ainda estava vivo. Ainda que não soubesse o porquê.


Canal da Mancha

“Não! Isto não está certo!”, Lua, a princesa fugitiva de Zindaria, estava tentando forçar a cabeça atordoada a se estabilizar. “Eu paguei para ser levada até Lulworth”. Ela apertou a mão contra a balaustrada do barco e perscrutado desesperadamente a noite a fora. As nuvens inconstantes bloqueavam o luar e tudo que ela podia ver eram espumas brancas e ameaçadores precipícios escuros. Não havia nenhum sinal de vida, nenhuma casa ou habitação.
Isto era mesmo a Inglaterra? Ela não tinha como saber. Era o meio da noite e ela tinha sido despertada grosseiramente de um sono irregular. As sete horas anteriores ela tinha passado violentamente mal.
“Você e o rapaz vão desembarcar aqui, madame. Ordens do capitão”, um marinheiro disse a ela.
“Nicky!”, onde estava Nicky? Ele tinha estado aqui até um momento atrás. “Onde está meu filho?”.
“Eu estou aqui, mamãe. Estava apenas pegando a chapeleira”. O filho dela de sete anos passou por cima de um rolo de corda e foi apressado para o lado dela.
Lua pôs uma mão no ombro dele. Nicky era a coisa mais importante em sua vida, a razão pela qual ela estava aqui em primeiro lugar. “Não foi aqui que eu paguei para me trazerem”, ela disse ao marinheiro com uma voz que esperava ter soado firme. “Lulworth é uma cidade pequena, em uma enseada proteg—”
“Certo, rapazes”.
Sem aviso prévio, Lua se achou agarrada por dois marinheiros fortes.
“O quê—? Como ousam—!” O que estava acontecendo? Com certeza eles não iriam lançá-la ao mar, certo? Nicky… Apavorada, desesperadamente tentou alcançar Nicky, e lutou como um animal selvagem, chutando, gritando, ofegando com terror…
“O menino primeiro”, alguém gritou. “Ela vai ficar mansa depois”.
Ela se torceu freneticamente a tempo de ver um marinheiro agarrar Nicky como se ele não pesasse nada. Ele o arrastou para a amurada do navio, o ergueu, e o soltou além da extremidade.
Nicky!”.
O espírito de luta fugiu do corpo dela. Ela não fez nada quando os homens a levaram, também, para além da extremidade do navio. Nicky.
Ela se deixou abraçar pelo mar. Morte por afogamento—Deus querido, não diga que ela tinha trazido Nicky apenas para que ele morresse desse jeito…
Os marinheiros a soltaram e ela caiu. E bateu em um pequeno veleiro, violentamente oscilante. Um marinheiro a segurou.
Nicky estava sentado na extremidade do bote, o rosto pálido, enrugado e com medo—mas estava vivo.
“Nicky, graças a Deus!”, ela se balançou através dos assentos de madeira indo na direção dele.
O pequeno bote balançou perigosamente.
“Sente-se, senhorita! Ou vai nos fazer virar!”, o marinheiro pegou um braço dela e o torceu até que ela se sentasse severamente.
Furiosa, apavorada, mas percebendo que não tinha nenhuma escolha, Lua se sentou, sem tirar os olhos de Nicky por um segundo sequer. As ondas estavam ficando mais altas e o pequeno veleiro balançava e sacudia. Ela sabia nadar um pouco; mas Nicky não sabia.
O que estava acontecendo com eles? Ela esquadrinhou o contorno da costa distante freneticamente. Os pensamentos de escravos brancos, navios naufragados e coisas piores passavam pela mente dela. Ela reconhecia que tinha sido arriscado pagar a um capitão desconhecido de um barco surrado para levá-los através do Canal. Teria sido mais arriscado,  entretanto, pegar o navio regular para Calais, porque eles então certamente teriam sido encontrados. E teriam que retornar.
“Eu exijo que você nos coloque de volta a bordo do navio agora!”, ela gaguejou, desesperadamente tentando fazer sua voz funcionar. “Aqui não é Lulworth e eu—”
Houve um grito acima e a chapeleira dela veio voando para baixo. O marinheiro a pegou e passou para Nicky. Um momento mais tarde a mala de viagem dela estava nos braços do homem.
Ao ver suas posses intocadas, ela se acalmou. Talvez ela e Nicky não fossem assassinados por causa de seus pertences afinal. Mas que lugar era esse, com orla escura e desconhecida?
O marinheiro se ocupou dos remos e começou a remar.
“Aonde você está nos levando?”.
“As ordens do capitão foram para levar a madame até a praia. ‘Tá vindo uma tempestade”.
“Mas há um porto seguro em Lulworth. Daria abrigo no caso de uma tempestade”.
“Há preventivos na enseada de Lulworth, madame. O ‘Captão’ odeia preventivos”.
“Preventivos?”, ela estava tão confusa que não podia pensar. “Mas…”
“Ordens, madame”, ele disse indiferentemente e puxou os remos.
Ela cedeu. Não havia nenhum ponto a ser discutido. O marinheiro não estava escutando. Todo seu esforço era para remar, e ela teve que fazer o máximo de esforço possível para se segurar. O pequeno bote estava sendo lançado no mar como uma rolha. Ela tinha sua mala de viagem sob os pés. Nicky mantinha a chapeleira fechada debaixo dele, mas precisava de ambas as mãos para fazer isso. “Aqui é o ponto final, madame” o marinheiro disse após alguns minutos. O balanço do pequeno bote estava ficando frenético. “Eu não ouso te levar mais além. Você terá que andar através da água até a praia”.
“Não. É muito fundo e meu filho—”
Antes que Lua pudesse parar o marinheiro, ele arrastou Nicky para o lado e o colocou no mar.
“Ele não sabe nadar!”, Lua gritou. Sem esperar por uma resposta ela entrou na água depois de Nicky, arrastando-se ao longo da lateral do bote até que ela o alcançou. A água estava na altura do peito dela e gelada.
“Segure-se em mim, Nicky! Ponha suas pernas ao redor da minha cintura e seus braços—sim, isso mesmo”.
Nicky a agarrou, envolvendo os braços e pernas ao redor do corpo dela como um macaquinho. Ele estava tremendo.
“Estou com f-frio, mamãe”.
“Aqui estão suas coisas, madame”. O marinheiro deu a ela sua chapeleira. Como se ela se importasse com sua chapeleira quando o filho estava no mar. Mas Nicky tinha feito dela sua própria responsabilidade durante a jornada e agora ele estava agarrando-a. Além disso, ela continha documentos importantes e roupas secas para Nicky.
“Lace a correia ao redor do pulso, Nicky”, ela disse a ele. “Ela vai flutuar e a cobertura de verniz vai mantê-la seca do lado de dentro”.
O pequeno bote se aproximou mais. Talvez o marinheiro tivesse mais consciência do que seu capitão—ele estava em perigo real de encalhar, mas parecia querer ter certeza de que eles teriam sua bagagem. Ele esperou até ver Nicky com a alça da chapeleira na mão.
“Sua bolsa, madame”. O marinheiro deu a mala de viagem para ela. Lua cambaleou quando uma onda quebrou acima dela. Ela o segurava com uma mão, enquanto segurava Nicky contra ela com a outra.
“Boa sorte, madame”. O pequeno bote se moveu rapidamente para longe na noite.
“Mas onde nós estamos?”, ela gritou atrás dele.
A voz dele veio flutuando. “Suba pela trilha do precipício, então vire a oeste para Lulworth”.
“Eu nem sei qual direção é oeste!”, ela gritou. Mas suas palavras se perderam no vento. E na escuridão, ela não podia mais ver o pequeno bote, e muito menos o navio no qual eles tinham deixado a França.
“O oeste é onde o sol se põe, mamãe”, Nicky disse a ela.
Lua quase riu. O sol tinha se posto há muito tempo. Mas as ondas estavam carregando-os até a costa. Ela mudou Nicky de posição e caminhou com dificuldade em direção à praia. O vento estava ficando mais forte a cada minuto. Batia com força contra a roupa ensopada dela. Se ela estava congelando, Nicky estaria com muito mais frio.
Mas ele estava vivo, e isso era mais importante do que qualquer coisa. E eles estavam na Inglaterra. E apesar do fato de ela estar encharcada, congelada e não ter nenhuma ideia de onde estivesse, o ânimo dela aumentou um pouco. Ela tinha sido bem sucedida.
Finalmente eles alcançaram a parte rasa e ela soltou Nicky. Eles saíram tropeçando e tremendo da água. A praia estava apinhada de pedras e conchas quebradas e era difícil de caminhar através dela na escuridão. Os chinelos de Lua tinham se soltado no mar e ela tinha batido os dedos dos pés dolorosamente várias vezes. Ela não se importava. Praia… terra firme… Inglaterra.
“Vamos, querido”. O alívio estava fazendo-a se sentir atordoada. “Vamos, você vai colocar algumas roupas secas e então nós acharemos a trilha. Com alguma sorte nós chegaremos à Tibby para o café da manhã”.
“Vai ter salsichas, mamãe?”, ele perguntou esperançosamente, através dos dentes batendo. “Salsichas inglesas?”.
Lua sufocou um riso. “Talvez”, ela disse a ele. “Agora, depressa!”.
Na base do precipício ela abriu a chapeleira. Tudo estava seco, graças à cobertura de verniz. Ela tirou uma muda de roupas para Nicky, um manto de casimira, e seu par sobressalente de chinelos.
Ela rapidamente tirou a roupa de Nicky, secou-o com seu manto e colocou nele roupas limpas e secas. Ele tinha sido propenso a todo tipo de doenças ao longo da infância e ela não queria que ele apanhasse um resfriado. Ela torceu as saias o melhor que podia, secou os pés e os deslizou para dentro dos sapatos.
Ela olhou de relance para o precipício. Ela nunca conseguiria subir o caminho íngreme com a saia arrastando e grudando ao redor das pernas. Com dois alfinetes ela removeu a saia e a anágua subiu, usando apenas a anágua, com os bolsos secretos, que eram atualmente a sua posse mais valiosa.
Ela amarrou a saia e a anágua bem altas nas pernas, como tinha visto um pescador fazer. O vento glacial bateu em sua pele molhada. “Agora, rumo à subida”, ela disse e ergueu a mala de viagem.
Nicky olhou fixamente para o precipício. “Nós realmente temos que subir até lá em cima?”, não era nenhuma maravilha ele parecer amedrontado com a ideia. Ela podia vez o topo através de uma luz lânguida iluminando a escuridão—uma mudança de textura, em vez de sombra.
“Sim, mas o homem disse que havia um caminho, lembra?”, Lua tentou manter a fúria longe da voz. Os precipícios eram enormes e muito íngremes—largá-los lá tinha sido mais do que ultrajante, tinha sido criminoso, devido às pernas de Nicky!
Eles foram escalando, Nicky na frente, para que Lua pudesse ajudá-lo caso ele tropeçasse. O grande peso da mala de viagem logo fez as palmas das mãos dela queimarem. Rajadas de vento os chicoteava.
“Fique longe da extremidade!”, ela gritava para Nicky a todo instante. O caminho era assustadoramente estreito em alguns lugares: na escuridão era apavorante.
“Eu posso ver o topo, mamãe!”, ele disse depois do que parecera ter sido uma eternidade.
Lua parou para respirar, esfriando as palmas em chamas contra a saia molhada, e olhando para cima. Quase lá. Ainda bem! Ela deu um suspiro enorme de alívio. Com alguma sorte eles não estariam longe de Lulworth.

Arthur Aguiar circundava o precipício num galope. O caminho estreito mal era visível e ainda assim Thur não diminuiu a velocidade de seu passo. Um passo em falso poderia mandá-los além da extremidade, mas ambos, cavaleiro e cavalo, conheciam bem o caminho. Eles tinham montaram lá quase todas as noites pelas últimas semanas.
O ar salgado e frio entrava em seus pulmões. A tempestade estava se aproximando, rapidamente.
Trojan de repente quebrou seu passo largo. Thur olhou para cima. “O que diabo—”
Uma criança apareceu em seu caminho, olhando fixamente para ele e apavorado. Cavalo e cavaleiro estavam quase sobre ele. Não havia tempo para parar, nenhum lugar para manobrar. De um lado as pedras laterais se erguiam abruptamente no meio de arbustos irregulares, do outro um mergulho para a morte certa nas pedras abaixo.
“Saia do caminho!”, Arthur gritou. Ele puxou as rédeas, os músculos de Trojan se comprimindo no esforço em diminuir a velocidade o suficiente para parar antes da criança ser pisoteada.
O pequeno menino não se moveu, estava petrificado pelo medo. Não havia tempo para pensar, apenas para reagir. “Abaixe-se!”, Thur gritou enquanto se preparava para saltar com seu cavalo sobre a criança.
Enquanto Trojan se elevava, saltando alto em obediência cega ao comando das mãos do seu mestre, uma mulher surgiu de lugar nenhuma e com um grito se jogou sobre a criança. Era muito tarde — o cavalo já estava no ar, passando sem acertar, Arthur desejou, ambas as mulher e a criança. Ele tinha sentido uma pancada enquanto voava? Aconteceu tão rápido que ele não podia estar certo.

Continua...

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