Parte 3
“Você não pode arriscar a segurança do seu filho somente porque você está
zangada comigo”, ele disse tranquilamente.
Ela olhava surpresa para ele. O homem era algum tipo de mago leitor de
mentes? Mas ele estava certo. Apesar das reservas dela sobre ele, ele era um
homem forte, honrado, protetor e ela seria terrivelmente tola se recusasse sua
oferta de proteção.
“Eu aceitarei sua escolta, obrigada”, ela disse a ele.
Arthur protegeria seu filho do Conde Anton.
E ela se protegeria de Arthur.
“Excelente. Agora, dê-me a pomada”. Ele ergueu um pano limpo e tocou de
leve nas pequenas mordidas das sanguessugas. As marcas vermelhas contundidas estavam
por toda parte do corpo que estava com aparência menos vermelha e brava. Ele
viu que ela o estava observando e disse, “Devemos ir para a sala de estar? Pega
a luz do sol da tarde e acredito que o Barrow tenha acendido o fogo lá, então estará
bom e quentinho, e você poderá passar a pomada em mim em particular”.
Lua se perguntou brevemente por que ele iria querer isolamento de
repente—afinal, ele tinha se sentado, desavergonhado e desembaraçado, nu da
cintura para cima na frente de Mel e dela, mas ele já tinha pegado a pomada e
uma lata verde grande e saído, então ela o seguiu.
A lata verde continha tortinhas de geleia e Arthur ficou sob a luz do sol que
fluía através da grande janela os mastigando. O corpo dele era poderoso, apesar
de não ser tão musculoso quanto era o de Rupert.
O corpo de Arthur era flexível, macio, lustroso e firme… Ele era como uma
estátua grega sob a luz do sol, só que quente e feita de músculos e ossos.
Ela olhou de relance para cima, para descobrir que ele a estava observado enquanto
ela examinava o torso nu dele. Ela sentiu um calor subir às bochechas. “Apenas
verificando onde precisarei passar a pomada”, ela murmurou. “Vire-se”.
“Você precisará disso”, ele disse suavemente e ofereceu o pote com a pomada.
Ela a tomou e ele ficou de costas para ela.
Ela nunca tinha realmente olhado para as costas de um homem antes—não nu e
nem tão perto. Rupert era o único homem que ela já tinha visto parcialmente
despido. Rupert tinha sido um homem de modéstia física; ele sempre mantinha a roupa
de dormir todas as noites.
As costas dele era… extraordinária. Larga e poderosa, com pele lisa,
dourada, como se ele sempre tirasse a camisa para pegar sol frequentemente.
Os arranhados e as contusões recentes se sobrepunham a outras cicatrizes
mais antigas: a marca de uma lâmina aqui, uma cicatriz enrugada e redonda, de
uma bala, talvez, lá. O testamento das batalhas que ele tinha sobrevivido. Um
guerreiro enrijecido e experiente.
Eu vou te proteger, ele tinha dito.
Ela destampou o pote da pomada e o cheirou cautelosamente. Era pungente,
mas agradável, também. Uma lama espessa e de cor verde, ela podia sentir cheiro
de cânfora, calêndulas, hortelã e poejo talvez, como também outras ervas. Ela
cheirou novamente. Talvez mirra, também. “O que há aqui, você sabe?”.
Ele encolheu os ombros. “Não tenho muito certeza, mas acho que contém
hidraste, bananeira, erva de São João assim como capim roxo da Rússia também. A
Sra. Barrow costumava mandar que a gente colecionasse ervas quando eu era
menino. Um conhecimento que se mostrou muito útil quando estávamos em guerra.
Cuidadosa e suavemente, ela alisou a pomada sobre a carne irritada. O unguento
fresco aqueceu a palma da mão dela, absorvendo o calor do corpo dele que fluía
através dos lugares lisos e dos buracos das costas dele.
“Conte-me sobre Mel”, ele disse depois de um tempo. “Você tem, creio, uma
relação mais íntima com ela do que a maioria das mulheres tem com a antiga governanta”.
“Sim, Mel é um doce. Ela era, em muitos aspectos, como uma mãe para mim.
Meu pai era muito… rígido quanto a minha educação. Ele tinha planos de fazer um
brilhante casamento para mim”.
“E ele teve sucesso”.
“Sim”. Lua colocou o dedo dentro do pote novamente e pegou mais um dedo de pomada.
Ela se recusava a pensar em seu bem sucedido e brilhante casamento. Ela sentiu um
conforto estranho ao amassar e massagear a firme e quente carne morna embaixo
das mãos dela.
“Como aconteceu?”.
“O plano original de papai era que eu me casasse com o príncipe regente,
mas ele se casou com a Princesa Maria de Brunswick quando eu era apenas uma garotinha,
então papai se viu forçado a buscar em várias cortes europeias um marido
apropriado para mim. Ele saiu em excursão para várias cortes, deixando-me na
Inglaterra com Mel, para que eu fosse educada”.
“Ele te deixou para trás? Por quê? E como você se sentiu sobre isto?”.
Lua pensou nisso enquanto esfregava a pomada de cima a baixo no músculo forte
que acompanhava a coluna vertebral dele. “Acho que ele pensou que poderia
organizar um casamento melhor comigo fora das vistas”. O modo como ela ficou ao
crescer tinha sido um soco na ambição do pai. Ele não fez nenhum segredo da
frustração que sentiu por ela se assemelhar ao lado dele da família em aparência,
em vez dos altos, nobres e loiros do lado da família da mãe dela. Se Lua tivesse
sido uma beleza, poderia ter se casado numa das grandes famílias reais, em vez
de um principado obscuro e pequeno.
“Eu não me importei de ser deixada para trás”, ela disse. “De certo modo, foi
um alívio”.
“Bom Deus, por quê?”.
“Eu nunca conseguia fazer nada que satisfizesse meu pai. Eu era uma pedra
no sapato dele, realmente—nenhuma gota de sangue real era visível em mim. Eu sou muito pequena,
muito rechonchuda, meu rosto é muito redondo e tenho um nariz achatado que não
se destaca. E tenho vários defeitos de caráter também”.
“Quais?”.
“Oh, sou respondona, teimosa—”
“Notei isto”.
Ela deu um tapa no unguento frio dele. Ele riu. “Eu sei, pedi por isto”.
“E eu não consigo ficar interessada em coisas importantes”.
“E quais são essas coisas importantes?”.
“Oh, coisas como etiqueta, diplomacia, talentos femininos—quero dizer, qual
a importância do bordado?”, ela revirou
os olhos. “O palácio estava cheio das mais horrorosas e perfeitamente bem
executadas almofadas bordadas, cortinas, biombos—apenas deve-se colocar o
brasão, não há necessidade de mais nada. Mas não, eu deveria bordar”.
“Então, você odeia costurar”.
“Não, eu gosto muito de costurar, mas gosto mais de ser útil. Mas uma
princesa não deve fazer nada de útil. Ou interessante”. Ela riu estranhamente,
pensando sobre isto. “Eu não sei quem ficava mais frustrado comigo, se era papai
ou Rupert”.
A época mais feliz da minha vida foi quando eu vivi com a Mel, ela pensou—fora
quando Nicky nasceu. Mel nunca tinha desejado que ela fosse outra pessoa. Mel
gostava dela do jeito que ela era. E Mel estava interessada em várias coisas
diferentes, que eram inadequadas e tinha encorajado Lua a ser assim, também.
Salvar Nicky tinha sido a razão pela qual ela tinha fugido de Zindaria, mas
era por ambas as causas que ela tinha fugido até Mel. Ela planejava fazer uma
nova vida para ela mesma assim como para Nicky também, onde os dois pudessem
viver sem críticas constantes.
Mel sempre tinha desejado uma criança. Lua sabia disto. Da mesma maneira
que ela costumava fingir em seu coração que Mel era sua mãe, Mel fingia que Lua
era sua filha.
Agora o Conde Anton tinha arruinado o sonho dela, também. Ela não poderia
nunca mais voltar a viver com Mel agora que o Conde Anton sabia onde ela vivia.
Ela esfregou com mais força.
Thur curvou as costas sob a roçadura sensual que estava recebendo e pensou
sobre o que ela tinha dito a ele. “Então enquanto Napoleão estava fazendo seu
melhor para devorar a Europa, seu pai estava fazendo uma grande excursão
entrevistando genros reais em potencial. Será que Boney não o atrapalhou a
conseguir o que queria?”.
“Oh, realmente sim”, ela disse a ele. “Napoleão continuou assumindo o
comando das casas reais da Europa e transformando seus próprios parentes em
reis e rainhas. Papai estava totalmente furioso com isto. Napoleão veio do meio
de pessoas muito comuns, sabe. Nada bom. E suas conquistas arruinaram algumas
boas chances para mim, então papai fora forçado a procurar em lugares mais
distantes. E ele achou isso tudo terrivelmente inconveniente”.
Thur gaguejou com esta visão inovadora da conquista da Europa. Ele quase
sentia por não ter encontrado o pai dela.
“Papai ficou bastante aliviado quando conseguiu fazer o Príncipe Rupert me
aceitar. Rupert não se importava com aparência ou fortuna, apenas sangue. A
família da mamãe era pobre, mas incrivelmente distinta. Rupert levava linhagens
muito seriamente—bem, ele tinha que ser, sendo um criador de cavalo”.
Thur deu um ameaço de riso. “Um cara romântico, percebo”.
Houve um cessar súbito de movimento. “Não. Não, ele não era”, ela disse com
a voz baixa. Depois de um momento ela começou a passar a pomada novamente.
Ele obviamente tinha tocado em algo complicado. Thur girou para olhá-la.
Ela continuou com a cabeça baixa, passando o unguento frio sobre a pele dele e
continuando a massagem sem encontrar seus olhos.
Ele não conhecia muitas meninas jovens, mas do que ele sabia, casar com um
príncipe estrangeiro e misterioso era o ápice dos sonhos de qualquer moça.
Algo o fez perguntar, “Quantos anos você tinha quando se casou com ele?”.
Ela encolheu os ombros e evitou os olhos dele. “Quase dezesseis”.
Ele franziu o cenho. “Isso parece bastante jovem”.
Ela encolheu os ombros e bateu mais unguento nele, quase furiosamente.
“Rupert achava que uma noiva jovem seria mais fértil. Eu fui a segunda esposa
dele, sabe. A primeira era estéril”. Ela esfregou firme a pele de Thur.
“Depois de anos longe, papai chegou inesperadamente e me disse que nós iríamos
para Zindaria e que eu iria me casar com um príncipe”. Ela esfregou as marcas na
pele dele como se fossem manchas a serem lavadas. Thur não vacilou ou fez som.
Acabou com tantos sonhos de uma moça, ele pensou. Se ele não tivesse pensado
antes que o homem era um completo imbecil, iria pensar agora. Um imbecil real e
completo.
Como algum homem não poderia ver o tesouro que ela era?
Ele olhou abaixo para a pequena princesa com rosto redondo, nariz
arrebitado e cabelo loiro fazendo um careta feroz enquanto esfregava unguento
nele o suficiente para impermeabilizar um barco.
Presa no passado, ela olhou fixamente e às cegas para o peito dele e
esfregou unguento em seus mamilos.
A dor ele podia resistir em silêncio. Mas isso ele não podia. Um gemido suave
escapou. Ela não percebeu e manteve o movimento, circulando os mamilos com
concentração intensa, uma expressão distante no rosto. Ele gemeu novamente e se
curvou involuntariamente.
Ela piscou e acordou. “Eu sinto tanto por você ter que sofrer deste modo—”
“Silêncio”. Thur pôs um dedo sobre a boca, apertando os lábios suaves e acetinados
dela. “Não há necessidade de se irritar. A Sra. Barrow estava certa. Eu gosto
de lutar”.
Ela olhou para as marcas na pele dele, agora brilhando com o unguento.
“Como você poderia gostar disto? Como alguém poderia?”.
“É uma forma de—se aliviar”. Ele pôde ver que ela não entendeu, então ele acrescentou,
“um pouco como, hm, um congresso”.
“Congresso?”, ela deu a ele um olhar perplexo. “Como o Congresso de Viena?”.
“Não, um congresso matrimonial. Um congresso na alcova do quarto”.
“Oh”. Ela baixou os olhos. “Isso. Sim, entendo”.
Eles ficaram mudos por um momento. Ela olhou para a bagunça de contusões no
peito dele e tocou o unguento suave e cuidadosamente sobre e ao redor delas, com
longos e delicados toques como um toque suave de uma borboleta. A sensação era ao
mesmo tempo sedutora e agonizante.
Thur assistiu as emoções esvoaçarem através do rosto dela e percebeu que
ela não tinha entendido nada.
Ela não sabia como seu toque era sedutor para ele, que ele estava lutando para
manter o controle, que a tensão no corpo sob as pontas dos dedos dela era
porque ele estava lutando contra a excitação, e não contra a dor.
Era óbvio para ele que ela era uma criatura profundamente sensual; a
intensidade com que ela se concentrava ao massagear o unguento pungente em sua
carne, os olhos escuros e sonolentos dela, os lábios fazendo beicinho em total concentração,
as sobrancelhas escuras e juntas com pensamentos—ele preferia lutar em uma
batalha em tempo e lugar bem longe daqui.
Ela estava despertando, ele estava certo. A respiração suave dela estava
ficando mais curta e mais rápida, e ela continuava lambendo os lábios,
inconscientemente. O brilho molhado dos lábios dela o fazia querer gemer. Se
ele apenas curvasse a cabeça alguns poucos centímetros ele poderia saboreá-los,
sentir o gosto dela. E ela saborearia os lábios dele.
Profundamente sensual.
Ele se recordou do rosto meio envergonhado e meio desafiante dela enquanto saboreava
o bacon nesta mesma manhã, seu modo de lutar contra o prazer quando ele tinha secado
os pés dela, e então seu abandono.
E ainda assim ela parecia ignorante dos prazeres sensuais entre um homem e
uma mulher.
Thur olhava fixamente para a boca deliciosa dela com descrença. Nove anos
de casamento e ela não conseguia imaginar como uma boa briga poderia dar o
mesmo tipo de sensações retidas como… como ela tinha chamado? Isto.
Sensual mas apertado. Se ela tivesse alguma compreensão do que o toque
estava fazendo com ele, estaria no outro lado do aposento.
“Você não tem nenhuma ideia, não é? Seu marido era um monge?”.
“Claro que não”, ela disse. “Eu te disse, ele era um príncipe. E o que você
quer dizer, com nenhuma ideia? Nenhuma ideia do quê?”.
“Disto”, ele disse e a puxou para seus braços.
amando a web
ResponderExcluirass Sofia
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