Parte 2
Os cavalos se moveram em com uma batida rápida. “As pistolas estão naquele estojo
ali”, Lua disse. Ela bateu as rédeas e os cavalos ganharam velocidade.
Mel abriu o estojo e examinou uma das pistolas com grande cuidado. O
curricle saltou e balançou e ela pôs a arma de fogo de volta apressadamente no estojo
e o fechou. “Parece bem simples”, ela disse vivamente.
“Você já atirou alguma vez?”, Lua perguntou.
“Não. Eu pensei que você tinha horror a cavalos”.
“E tenho”.
As duas mulheres trocaram olhares e desataram a rir. “Mel querida, você não
mudou nada! Eu te abraçarei corretamente depois que tudo isso estiver acabado,
mas oh! Como estou contente por você estar aqui!”.
“Minha querida, você se transformou em uma mulher esplêndida—como eu sempre
disse que iria!”.
“Eu sinto tanto por ter te envolvido nis—”
“Tolice! Eu mesma me envolvi”, Mel declarou fortemente. “Eu te persuadi a
vir até mim, lembra? Eu sabia dos riscos”.
Um pouco da culpa de Lua se enfraqueceu. “Eu tive náuseas quando ouvi que
eles te mantinham prisioneira—mas você está bem, de verdade?”.
“Sim, perfeitamente. O Sr. Suede me pegou do modo mais audacioso”. Ela acrescentou
depois de um tempo, “eu me senti como a loira Ellen por um momento”.
A referência a surpreendeu e ouve outra risada de Lua. “Young Lochinvar”? O
poema favorito de Mel.
Elas corriam. Isso tomava toda a concentração de Lua para dirigir.
“O próprio Conde Anton está aqui”, Mel disse de repente.
“Onde?”, Lua procurou alarmada.
“Eu quis dizer na Inglaterra. Ele veio até o chalé. Estou certa de que era
ele. Os outros o chamaram de ‘Excelência '—um homem esbelto e bonito com cabelo
dourado e um jeito suave e sórdido de falar”.
“Sim, é ele”. Lua teve náuseas.
“Ele sabia de todos os nossos acordos. Eles vieram direto ao meu chalé. Ele
sabia que eu estava esperando por você e Nicky”.
“Então ele deve ter lido nossas cartas”, Lua disse. “Mas como? Não havia
nenhum sinal de violação nas cartas…”
O chalé entrou no raio de visão e elas ficaram mudas.
“Nós precisamos de um plano”, Mel disse.
“Sim. Você já atirou com uma arma de fogo?”.
Mel agitou a cabeça. “Nunca”.
“Então eu as levarei. Eu sei atirar. Rupert me ensinou”. O rosto dela endureceu.
“E se for o Conde Anton ou um de seus assassinos, minha pontaria não oscilará.
Você deve fazer um som alto, um barulho chamativo no momento em que entrarmos no
chalé. Atrairá a atenção deles”. Lua respirou fundo. “Eu farei o resto”.
Thur já tinha colocado dois homens para dormir e ainda havia dois quando Chay
chegou; ele pegou um vaso de metal pesado e o bateu na cabeça do homem. Ele caiu
como uma pedra. Thur deu um soco firme no último homem de pé, e o chalé de
repente ficou mudo.
Os dois homens sorriam amplamente um para o outro. “Uma luta justa, pelo
que vejo, ‘Captão’”, Chay disse.
Thur levantou e deu um suspiro satisfeito. “Realmente foi”. Ele dobrou as
juntas cuidadosamente. “Apesar de que já fazia algum tempo desde que tinha lutado
somente com as minhas mãos”.
“Se você tivesse pegado a faca emprestado—”, Chay deu uma esfregada no vaso
com a manga da blusa e a colocou sobre o mantel. Ele o girou para que o amassado
não aparecesse.
“Não. Como disse antes, matar alguém complicaria demais as coisas e chamaria
atenção não desejada a Sra. Prinny e seu filho. Nós prenderemos esses caras por
tentativa de roubo e encarceramento ou algo assim. Eles dificilmente admitirão
seu verdadeiro propósito —”
No momento, um dos homens caídos gemeu e começou a se mover. Chay agarrou o
vaso de metal novamente e bateu no homem, deixando-o inconsciente. O vaso estava
agora amassado de ambos os lados. Ele o colocou no mantel. O vaso estava
lamentável.
“Vamos amarrar essa cambada”, Thur ordenou.
Não havia nenhuma corda no pequeno chalé feminino, mas eles acharam uma
pilha de lençóis dobrados em um armário e cortaram o primeiro em longas tiras
que usaram para amarrar os vilões.
“Informarei ao juiz—” Thur começou, quando houve um baque! Um grande vaso de barro contendo um gerânio veio através da janela
lateral e se partiu no chão, enviando vidro, terra e pedaços de gerânio para todos
os lugares.
Ao mesmo tempo em que a porta da frente se abriu de repente. “Ninguém se move!”,
uma voz feminina berrou. “Tenho uma arma!”.
“Duas armas!”, uma voz igualmente feminina e estridente soou atrás. “E uma
pá!”.
Thur suspirou. Ele tinha entendido agora porquê o exército não tinha nenhuma
mulher. As mulheres não entendiam ordens. Elas as confundiam com conselho.
Ele assistiu seu pequeno anjo vingador pular para dentro da sala, as
pistolas dela—na verdade dele—armadas e prontas. Ela parecia corada, tensa e linda.
O cabelo estava começando a escapar do laço que ele tanto detestava, e a boca mais
perfeita para se beijar no mundo estava para frente, agressivamente fazendo um beicinho
que ele achava encantador. E exasperante. Uma longa e sedosa ponta do laço de
amarar caiu sobre o nariz dela. Ela o soprou para o lado e olhou ferozmente em
torno do cômodo.
“Aponte para o coração”, ele disse a ela e deu um passo adiante. Ela
encontrou o olhar dele e as pistolas oscilaram. Ela olhou de relance em torno da
sala novamente e as mãos caíram para os lados do corpo.
“Oh”, ela disse. “Você conseguiu fazer sem nós”. Ela soou quase desapontada.
“Sim, como você vê, consegui sem você”. Ele removeu as pistolas do aperto negligente
demais para o conforto dele e as colocou de lado. “Onde está Nicky?”.
“Com Barrow. Ele será seguro em Grange agora”.
“Como você deveria estar”, ele disse pro entre os dentes. Tudo o que ele
podia pensar era na possibilidade de ele não ter conseguido cuidar da situação.
Ela entraria num local cheio de assassinos. Pistolas ou não, ela não teria
chance.
“Puxa”, ela disse. “Eu tinha pistolas, você estava desarmado e eles em maior
número”.
Ele queria estrangulá-la.
Ele queria beijá-la.
Ele deu um passo para trás, forçando a si mesmo a respirar profundamente.
Ela ficou ciente da expressão dele e mordeu o lábio inferior em dúvida súbita. Thur
olhava fixamente para os lábios dela. Estavam vermelhos, suaves e deliciosos e
ele não tinha conseguido saboreá-los o dia todo.
Ele ainda queria estrangulá-la.
Ele queria mais que nunca beijá-la.
Acima de tudo, ele queria dormir com ela.
Ele arrastou o olhar longe dela. Atrás dela havia uma mulher pequena, magra,
sacudindo uma pá acima da cabeça. Ela também olhou ao redor do cômodo e a pá
caiu, junto com seu rosto. “Minha casa!”, ela gritou. “Todas as minhas coisas!”.
Todo mundo olhou. Pela primeira vez Thur observou os destroços da sala. A mobília
destruída, a porcelana rachada e dispersa através do chão, quadros tortos,
alguns danificados além de conserto…
O olhar dela foi até os homens firmemente atados e falou acidamente. “Suponho
que vocês usaram meus lençóis novos para fazer isto”.
“Ops”, Chay murmurou. “Não é tão ruim quanto parece”, ele começou. “Por que
eu não—”
Ela atirou nele um olhar que teria derrubado um homem menor. “Oh, apenas faça
para si mesmo uma boa xícara de chá”,
ela retrucou, e começou a endireitar a sala com movimentos vivos.
“Você não tem tempo para isto”, Chay disse. Ele girou para Thur. “Ela disse
que havia sete homens originalmente, então há pelo menos outros três por aí”.
“Então eles podem retornar a qualquer momento”, Thur disse. “Senhorita Melanie,
você tem três minutos para fazer uma bolsa, então as duas senhoras vão deixar este
lugar. Não é seguro para vocês”.
“Eu preferiria ficar aqui e defender a minha casa”, a senhorita Melanie
disse a ele com uma voz incisiva. “Antes tarde do que nunca”.
“Sim e eu ajudarei”. Lua avançou.
“Não, você não irá”, Thur a informou. “A senhorita Melanie é uma mulher
muita sensata para não perceber o perigo em que a estaria colocando. Ela não gostaria
disto, estou certo”.
“Para começo de conversa, eu sou a razão de haver perigo. Aqueles homens estão
atrás de mim”.
“Exatamente”, Thur disse. “E é por isso que vocês duas devem desaparecer
deste lugar imediatamente!”.
Mel considerou as palavras e então olhou para a amiga. “Ele está certo”,
ela disse. “Sua segurança é mais importante do que as minhas coisas”. Ela se
apressou para subir.
Thur girou para os espinhosos olhos castanhos. “Você irá diretamente para Grange
e não retornará por nenhuma razão, e vai levar as pistolas com você. Isso é uma
ordem, entende?”.
“Sim, mas—”, ela abriu a boca adorável e Thur só podia pensar em uma maneira
de fechá-la. E não era nem a hora nem o lugar.
“Não discuta comigo, mulher”, ele rugiu. “É uma ordem!”.
“Sim, mas eu não estou no seu exército, e não recebo ordens de homem nenhum”,
ela disse docemente. Mas antes que ele tivesse tempo de dizer qualquer coisa,
ela acrescentou, “farei isto, porque me parece a coisa mais sensata a se fazer,
mas o que eu quis dizer é—”
“Não diga nada se estima a própria vida”, ele rosnou.
Ela deu a ele um olhar especulativo e abriu a boca para falar.
“Ou a sua reputação”, ele acrescentou e olhou fixamente para os lábios dela.
E ela a fechou. Com um barulho como um estalo. E permaneceram frisados
formando uma linha de desaprovação.
Aquela boca seria sua morte, Thur pensou.
Sem uma palavra ela girou e subiu, cabeça erguida bem alto, uma rainha
despedindo-se de um camponês. O traseiro deliciosamente arredondado balançando e
atraindo-o a cada passo.
Quando ela desapareceu, Thur se voltou, e encontrou Chay assistindo-o com
um sorriso largo e conhecedor.
“Bem, não fique aí de pé parecendo um tolo”, Thur falou de repente. “Vamos limpar
esse lugar um pouco”.


Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentem, gosto dos comentários!Sem xingamentos okay?