Capítulo II.
A casa dele.
Quem tinha construído a casa gostava de luz, Lua pensou; a frente da casa
era quase toda formada por janelas. Enquanto eles a circundavam, rumo aos
estábulos, ela viu uma janela enorme subindo de uma baia octogonal quase até a
altura inteira da parede. Não havia dúvidas de que ela seria inundada por raios
de sol durante o dia.
Porém, ela era escura e quieta, com exceção de uma única lanterna que tinha
sido deixada queimando na parte de trás. Pelo chuvisco glacial, o vislumbre
dourado parecia receptivo e dando boas-vindas, mas eles passaram diretamente do
arco para os estábulos.
Dentro dela havia apreensão e vazio. Ele os tinha trazido para a casa dele.
Por quê? Todos os tipos de possibilidades protestaram em seu cérebro. Ela não conseguia
pensar de maneira clara.
Era tão difícil decidir em quem ela poderia confiar ou não. Sabendo que a vida
de seu filho dependia dos julgamentos e escolhas que ela fazia. Os julgamentos
dela sobre homens até agora tinham sido uma desgraça.
Quando eles entraram, Arthur Aguiar parou o cavalo. “Nicky, dê-me sua mão e
eu te descerei”.
Nicky desmontou e voou para longe do cavalo o mais depressa que pôde,
tropeçando com a pressa.
“Ele não vai te machucar, prometo”. Ele se virou para Lua. “Vou desmontar
primeiro e então te ajudar—”
Ela saltou, e como o filho, se atirou para uma distância segura. Thur
começou a soltar o arreio do cavalo.
“Você mesmo vai fazer isto?”, ela exclamou.
“Não há nenhuma outra pessoa para fazer isto no momento. Barrow, meu cavalariço,
está passando alguns dias em Poole com a Sra. Barrow. Não vou demorar”.
“Eu farei isto, Sr. Thur”, uma voz disse por detrás. Ele girou. Um homem de
meia-idade foi apressado na direção deles, ele usava um camisão de dormir, calças
curtas e botas com cadarços soltos. O cabelo escasso estava coberto por um
gorro de flanela vermelho.
“Barrow! Eu pensei que você ficaria em Poole até o fim da semana”.
Barrow agitou a cabeça. “Mudei de ideia depois de alguns dias. São anáguas
demais para mim! Um homem não pode respirar. Quatro mulheres em um chalé pequeno,
e três delas viúvas!”, ele deu a Thur um olhar apavorado enquanto tomava as
rédeas de suas mãos. “Não me olhe assim, Sr. Thur. Até que experimente, não saberá
como é. Minha Bess é uma boa mulher, mas o rebuliço que a mãe e as irmãs dela fazem!”,
ele estremeceu. “E cada maldito pedaço de mobília, toda cadeira, toda mesa, até
o aparador, são cobertos com coisinhas
de… crochê!”.
Ele agitou a cabeça. “Não, nós fizemos o que fomos fazer, botamos a
conversa em dia com a mãe e as irmãs dela e contratamos alguns rapazes apropriados
para o estábulo”. Ele acrescentou com um sorriso sinistro, “devo te advertir,
Sr. Thur, que a Sra. B. tem planos de ajudar na casa, também, agora que você
está em casa. Eu
voltarei lá dentro de alguns dias para buscar todos eles. Vou precisar de uma carroça
para ir. Você deveria estar lá para mantê-la sob controle”.
Ele olhou de relance para cima, para Lua, e piscou. “Não é qualquer homem que
consegue manter a minha Bessie sob controle, mas o Sr. Thur—”
“Sr. Thur não sonharia nem de longe em tentar qualquer coisa”, Thur o
interrompeu. “Eu tenho extremo respeito por ela”.
Barrow riu. “Extremo respeito pela comida dela, você quer dizer. E quem nós
temos aqui? Convidados, é? Que noite terrível para ser recebido”. Ele sorriu
para a dupla molhada.
“Sim, esta senhora e o filho dela, Nicky”, Thur disse a ele.
“A Sra. B. ficará contente”. Ele olhou para Nicky, e então—incrivelmente—piscou
para Lua. “Tome cuidado com o menino, senhorita. Minha senhora adora por as
mãos em meninos”.
Lua pôs o braço protetoramente ao redor de Nicky. Ela não iria deixar uma mulher
estranha qualquer colocar as mãos em Nicky e nunca tinham piscado para ela, muito
mesmo um cavalariço!
Rupert teria feito o homem ser açoitado.
Ela estava muito contente por Rupert não estar aqui. Ela ficava doente quando
via pessoas serem açoitadas.
O Sr. Barrow continuou, “eu cuidarei
de Trojan, Sr. Thur, enquanto você leva os dois para o calor. Ela parece muito
exausta, pobre pequena moça”.
A pobre pequena moça fechou a boca. Ela estava muito exausta. E isso estava
tendo um efeito ruim sobre o temperamento dela. Ela estava a ponto de dar um
tapa no nariz de um gentil idoso, apenas por ele ser familiar demais. Ela
costumava ser cortês e até suave. Ela seria cortês e mesmo suave novamente, ela
decidiu, assim que descobrisse quais pessoas eram essas e onde eles a tinham levado
junto com o filho. E isso assim que ela parasse de estremecer.
Se ela estava se comportando como um musaranho, bem, é porque tinha havido uma
provocação. Várias provocações. Ser jogada no mar gelado, ser atormentada, ser
sequestrada, então ser forçada a montar um cavalo, coisas que não eram condizentes
com sua graciosidade. Assim como seu medo constante.
“Sim, ela está exausta”, a sua atual provocação concordou. “Ela teve sérios
problemas, temo. Molhada, fria, com a bagagem perdida, e ela se feriu durante a
situação”.
“Eu não me machuquei!”, ela disse
indignada. “Seu cavalo me chutou!”.
“O quê? Trojan? Nunca!”, o Sr. Barrow exclamou assombrado. “Ele é tão
gentil quanto um filhotinho de cachorro, não é, minha beleza?”, ele sussurrou
para o cavalo.
“Para ser justo com o cavalo, você se lançou sob os cascos dele”, Sr. Thur
disse.
“Oh, sim, certamente vamos ser juntos com o cavalo!”, ela explicou para
Barrow, “ele saltou com esta criatura horrível sobre a cabeça do meu filho. E
eu desaprovei”.
“O Sr. Thur? Saltou com o cavalo sobre uma criança?”, Barrow exclamou com horror.
“Eu não acredito nisto”.
Sr. Thur não disse nada. Um pequeno sorriso pairou ao redor de seus lábios
e seus olhos descansaram sobre Lua com uma apreciação preguiçosa.
Lua puxou o cabelo para trás e evitou o olhar dele. O laço tinha sido desfeito
e seu cabelo estava bagunçado em todos os lugares e formando mechas úmidas. Ela
sabia que parecia uma assombração.
“Sr. Thur…você está sorrindo!”, o cavalariço exclamou como se isso fosse algo
surpreendente.
O estômago de Lua escolheu esse momento para roncar ruidosamente. Ela
tossiu para cobrir o som terrível.
O sorriso de Barrow se alargou. “Leve sua jovem senhora para dentro e
alimente-a. Como você disse que era seu nome, senhorita?”.
“Prin—” Lua parou a tempo. “Pr—Prinny”, ela disse, sentindo seu rubor aprofundar
e desejando que eles não notassem nada de errado. A fadiga a tinha feito se esquecer
por um momento de quem era—ou melhor, quem fingia ser.
“Eu sou a Sra. Prinny, e esse é meu filho, Nicholas”.
Ela olhou de relance para Nicky, que tinha se agachado para afagar o
cachorro. Em sua introdução ele se ergueu e fez uma reverência formal. Lua
mordeu o lábio. Ela não devia ensinar ao filho a mentir e fingir com tal facilidade,
mas ela não tinha escolha. Eles já tinham usado vários nomes diferentes durante
a jornada. Essa foi a primeira vez que ela tinha deslizado e quase dito Princesa.
Estava tão cansada.
E aquele homem a tinha distraído. Ela arremessou um olhar para o Sr. Thur para
ver se ele tinha notado a pausa dela e o encontrou observando Nicky com uma leve
franzida de cenho. Talvez ele não gostasse do filho dela acariciando o cachorro
dele.
“Nicky”, ela disse tranquilamente e gesticulou para que ele deixasse o
cachorro. Nicky se moveu para o lado. A puxada de perna dele estava pior do que
o habitual; a subida do precipício além da longa jornada que tinham passado o tinha
cansado demais.
“Como é a sua situação, madame”, Barrow disse. “Então, é uma viúva, não é?”.
Ela piscou. O hábito das pessoas comuns de fazerem perguntas diretas e pessoais
ainda a chocava um pouco. Não era cortês fazer uma pergunta tão íntima a um
estranho. Mas ela tinha a resposta pronta, de cor—ela tinha aprendido através
de uma dura experiência a resposta que servia melhor para ela e Nicky.
“Não, claro que não. Meu marido está atrasado na estrada e está pouco atrás
de nós”. Muito tarde ela percebeu que deveria ter dito que ele estava atrasado
no mar. Ou algo próximo. Ela arremessou outro olhar para o Sr. Aguiar. Ele sabia
que ela tinha vindo do mar. Ela mordeu o lábio e tentou parecer indiferente.
Ele olhou para ela abaixo, com um olhar estranho no rosto. “Eu acho, Sra. Prinny,
que a senhora está quase no fim da linha”, ele disse suavemente. “Assim como seu
filho. Vamos, vou levar os dois para o calor”.
Nicky deu dois passos cansados e, sem vacilar, o Sr. Aguiar o ergueu e
carregou para fora do estábulo.
Ela o seguiu. “O que pensa que está fazendo?”.
“Ele está machucado. Você não viu que ele estava mancando? E muito, até”.
Para Nicky ele disse, “não se preocupe, rapaz, veremos o que há com os seus pés”.
“Mas—” ela começou, e então parou. Nicky não fez nenhuma tentativa de resistir,
o que não era muito comum. Ele devia estar realmente exausto.
“Prinny”, Arthur Aguiar disse enquanto eles cruzavam o pátio. “Nome
interessante. Você é uma Quaker, não é?”.
“Não”.
Ele levou Nicky para uma ampla e aberta cozinha rural. Era um cômodo
confortável, com panelas de cobre cintilando sob a luz da lamparina com cheiro de
comida e ervas. Uma mesa de madeira enorme e limpa ficava no centro, com uma
dúzia de cadeiras de espaldar alto cercando-a.
Uma mulher alta, rechonchuda e de meia-idade estava de pé à espera deles,
um vestido sobre a camisola, um manto amarrado ao redor dos ombros e um avental
acima de tudo isso. Sra. Barrow, Lua presumiu.
“’Tá uma noite terrível!”, ela disse. “Coloque o rapaz pequenino e a
senhora perto do fogo, Sr. Thur. Há água quente no fogão. Vou arrumar uma cama
no quarto azul”.
Apesar do tamanho do cômodo e do chão de pedra, era morno do lado de
dentro. O fogo alto na cozinha de ferro fundido ardia através da grelha.
“Aqui está”. Ele colocou Nicky de pé em um tapete de trapos trançados na
frente do fogão da cozinha. “Sente-se, vocês dois, e se aqueçam”.
“Obrigada”. Ela se sentou agradecida, banhando-se com o calor, enquanto
Nicky afundava sobre o tapete. O tamanho, a limpeza, e jeito familiar do cômodo
eram reconfortantes. Muitas pessoas tinham mentido para ela por ela confiar em estranhos
tão facilmente, mas uma cozinha bem limpa era… diferente.
Os vilãos podiam ser limpos e familiares, também, ela se lembrou.
Provavelmente. Ela poderia estar exausta—não conseguia se lembrar de quando tinha
passado uma boa noite de sono—mas precisava ficar em guarda. Sua jornada
estava longe de terminar.
Sr. Aguiar tirara seu sobretudo molhado e tinha pendurado em um prego atrás
da porta. Ele removeu o casaco e o colete úmidos e os tinha pendurado atrás de
uma cadeira. Ele dobrou as mangas da camisa, abriu a porta do fogão, e mexeu nos
carvões que ardiam.
Ela olhou fixamente para os antebraços nus e bronzeados dele e para suas mãos
grandes e fortes enquanto ele, metodicamente, alimentava o fogo com pequenos pedaços
de madeira e então pedaços maiores. Ele assoprou algumas vezes com um fole e as
chamas aumentaram, dourando seu perfil, destacando o nariz corajoso e os
ângulos e sombras firmes de seu rosto.
Ela olhou para a coluna forte da garganta do Sr. Aguiar e para linha firme
de sua mandíbula. A camisa estava aberta no pescoço. As chamas saltavam e
crepitavam. Seu rosto estava iluminado pelo fogo. Ela não devia ficá-lo observando,
mas tinha que manter os olhos abertos para não adormecer, e ele estava lá, bem
em frente dela.
Ele não era um homem bonito, não era lindo como os jovens que Lua tinha admirado
quando era uma menina, e ainda assim ele era… bonito, de uma maneira estranha. Firme
e forte com uma aparência implacável. Um braço perfeito, um guerreiro
esculpido, reduzido ao essencial. Formidável.
Ele tinha passado violentamente com um cavalo sobre ela, ignorado os
desejos dela completamente, e ainda assim, fisicamente, ele a tinha tratado,
junto com o filho, com uma gentileza assombrosa. Ela tinha se sentido querida,
protegida…
Ele se endireitou, e ela não conseguiu evitar continuar olhando para ele.
Ele usava botas altas e calças de buckskin, que estavam úmidos e agarrados contra
o corpo longo, firme e masculino dele. As pernas eram longas, esbeltas e com
músculos firmes. Ele tinha dito a ela que tinha coxas fortes, ela recordou. E elas
pareciam… fortes.
As coxas de Rupert tinham sido fortes também. Ela supôs que todas as coxas
de cavaleiros eram, mas as de Rupert tinham sido, de alguma maneira… mais
carnosas.
Ele terminou de remexer no fogo e se virou para Nicky. “Agora, vamos dar uma
olhada na perna”.
Nicky deu um pulo para trás, envergonhado. “Está tudo bem”, ele murmurou.
“Não fique assustado. Eu não vou te machucar, mas você estava mancando
bastante e não é bom negligenciar uma ferida, quem diz é um velho soldado”.
Nicky desviou o olhar. “Não é nada”.
“A perna de Nicky foi ferida durante o nascimento”, Lua disse firme. “É
mais notável quando ele está cansado, isto é tudo”. Todas as vezes Nicky tinha
que explicar e ela sentia como se estivesse levando uma facada no peito. Era por
culpa dela, ela sabia, que o filho tinha que aguentar este fardo. Ela se preparou
para o que viria a seguir—o embaraço, as palavras reconfortantes e cordiais ou
as perguntas.
Sr. Aguiar a surpreendeu. “Então está bem”, ele disse de um jeito sincero para
Nicky. “Eu estava preocupado achando que tinha te machucado, assim como também a
sua mãe. Nesse caso, que tal você me buscar algumas toalhas limpas do armário,
Nick—é logo ali—e irei buscar um pouco de água quente”.
Nicky saiu apressado. Lua deu a Arthur Aguiar um olhar mudo de gratidão. Pouquíssimos
homens que ela conhecia tinham feito um menino incapacitado parecer útil.
Ele colocou um pedaço de papel em uma lata pequena no mantel, queimou-o, e então
o utilizou para iluminar a lanterna que estava pendurada acima de sua cabeça.
Ele teve que se esticar para fazer isto e ela não pôde evitar observar o modo como
a camisa dele tinha ficado apertada contra o peito forte e poderoso dele. Não parecia
haver mesmo nenhuma suavidade no homem.
A bochecha dela tinha descansado contra aquele peito. Ela sentiu o coração
bater forte.
Ele tinha tratado o filho com tal sensibilidade, respeitando a dignidade do
menino dela. E ele tinha trazido ambos para dentro, para longe do frio.
A luz suave e dourada da lamparina iluminou a cozinha, e quando ela olhou
de relance para cima, os olhos se encontraram.
Continua...
Meninas, me desculpem, olha, postei mesmo não podendo, estou com a sinusite, até ai tudo bem, mais eu Vic Lerda, escorreguei no corredor de casa, desloquei o pulso e to com uma perna inchada sem poder colocar peso nela, mais vi que as outras meninas abandonaram aqui, sendo que eu tinha colocado elas justamente pra me ajudar quando acontecesse isso, mais ja resolvi isso, a Dany estava em semanas de Provas e acho que ela ja vai voltar a postar, a Bia ta com a bacia fraturada ou alguma coisa desse genero auhsuah a vá faz tempo que não posta, nem me lembro a ultima vez, mais ja estou vendo isso, e a Mim esta postando aos poucos....Boom, eu vou fazer de tudo pra digitar tudo e postar Segunda, não gosto de Blog parado u.u kkkkk espero que me entendam...Bom, comentem muito!

adorei o capitulo e melhoras
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