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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Cap 1-3 "A Princesa Roubada"

Parte 3

Gotas glaciais de chuva batiam no rosto de Thur e adentravam seu casaco. Ele estava com frio, molhado e deveria se sentir miserável.
Em vez disso, ele sorria amplamente, de repente alegre. Até uma hora atrás sua vida se estendia diante dele, como uma extensão infinita sem sentido e fácil. Uma sentença de prisão perpétua de tranquilidade.
Agora, de repente—abençoadamente!—Ele tinha um problema, uma dificuldade, um problema. E ele estava sentado rígida e inflexivelmente em seus braços como um pequeno e molhado pedaço de madeira, os olhos fechados, contraídos com força, segurando sua coxa como se nunca mais fosse soltá-la; o pequeno problema dele.
E Thur achava que assim estava perfeito.

Lua fechou os olhos e se segurou, suportando. Se ela pensasse que este homem tivesse ameaçado seu filho de alguma forma, ela teria lutado, mas ele estava sendo gentil com Nicky, e com ela, admitiu. Além disso, ela não estava em condições de brigar. Ela não sabia aonde ele a estava levando, mas não podia ser pior do que marchar ao longo do topo de um precipício escuro com chuva gelada, sem saber onde se está.
A pior coisa era o cavalo.
Ela abominava cavalos. Ela não tinha montado em um desde que ela tinha seis anos e a mãe dela… Ela se arrepiou, revendo a imagem na mente, vividamente, como se fosse ontem, o coice do cavalo acertando a cabeça da mãe. E o sangue…
Mesmo Rupert não tinha conseguido fazê-la se aproximar de um cavalo novamente.
Mas se fazer isso significava levar Nicky para um lugar quente e seguro o mais rápido possível, bom, ela poderia tolerar qualquer coisa.
“Nicky, você está bem?”, ela perguntou.
“Sim, mamãe”. Ela sentiu o tremular dos dedos pequenos contra a cintura dela e apertou com força a mão do filho, agradecida. A salvação da vida dela.
“O casaco tem várias capas”, Arthur Aguiar disse a ela, a respiração morna contra a orelha dela. “Nicky está morno e seco, então pare de se preocupar com ele. Você, por outro lado, está congelando. Debruce-se contra mim e eu abotoarei o meu casaco até o final. Todos ficaremos mais aquecidos desse modo”.
Mas Lua não conseguia se forçar a se mover. Se ela o fizesse, estava certa de que cairia.
“Não se preocupe, você está segura”, ele disse novamente. O ressoar profundo da voz dele a acalmava, mas mesmo assim ela não conseguia mudar nada de posição. Ela tinha se sentado com a coluna tão reta que mal o tocava, os olhos dela estavam bem fechados, a mão agarrava os dedos de Nicky.
Ele suspirou e a puxou diretamente contra seu peito. “Agora se debruce contra mim enquanto eu faço isso”.
Lua abriu os olhos por um momento breve, então imediatamente os fechou de novo. Ele estava abotoando o casaco. Com ambas as mãos. Ninguém estava segurando as rédeas do cavalo. Ela não conseguia olhar.
“Tudo bem em respirar, sabe”, ele murmurou na orelha dela. “Isso, assim é melhor. Confortável?”.
Confortável? Sobre um cavalo? Ela estremeceu.
“Está grudada no chifre da sela, é?”, ele a ajeitou para que assim ela se sentasse através do colo dele, segurou-a firmemente em um círculo composto por seu braço, seu peito largo e morno, como um casulo dentro de seu casaco.
“Isto é sequestro”, ela murmurou.
“Sim, vergonhosamente, eu sei. Mas o que eu podia fazer? Você estava todos molhados e com frio”.
“Assim como você, agora”, ela assinalou.
“Ah, mas uma miséria compartilhada é uma miséria dividida pela metade. Não que eu me sinta de maneira nenhuma miserável”, ele acrescentou.
Nem Lua. Ela se sentia morna e, estranhamente, quase segura—apesar do fato de estar sobre um cavalo. E forçada a ficar em uma posição íntima com um homem que nunca tinha visto antes.
Era quase… perturbador, a sensação da coxa dele sob o traseiro dela, roçando a cada movimento musculoso e firme do cavalo. E o calor e firmeza do peito dele contra os… seios dela. E os braços dele, circundando o corpo dela, de forma tão quente, forte e íntima.
Mas o corpo grande e forte dele emanava calor e o corpo dela estava frio, muito frio. Gradualmente, quase que contra sua vontade, ela se aconchegou mais junto dele, seu corpo congelado sofregamente se banhando com o calor e a força dele.
A bochecha dela descansando contra o linho fino da camisa dele. Ele cheirava a cavalo, água-de-colônia, couro, fumaça de lenha… e pele de homem…
Ela imaginou poder ouvir a batida do coração dele, fixa, uma batida calmante, tum, tum, tum…
Era estranho, ela pensou; Rupert cheirava a cavalo, água-de-colônia e couro, também, mas era muito diferente.
Pare com isto! Ela disse a si mesma. Pare com essa imaginação estúpida, este desejo estúpido por algo que ela sabia que não poderia ter, que a tinha feito tão infeliz no passado. Ela era mais velha e mais sábia agora. Ela faria sua própria felicidade, não dependeria dos outros—dos homens—para alcançá-la.
Ela estava na Inglaterra e logo ficaria segura com Mel. Essa… debilidade era apenas porque ela estava fria, molhada e cansada. E porque ele era grande, quente e forte.
Isso era um problema. Porque ele era maior e mais forte, e fazia as coisas do seu jeito. Como os homens sempre faziam. Homens nunca escutavam. Lua já estava cansada disso. Quando ela chegasse a Mel, não teria nunca mais que receber ordens de um homem novamente.
“Você está mais aquecida, agora?”, ele disse. Sua voz era profunda e o estrondo reverberou pelo seu peito, contra a bochecha dela.
“Sim”, ela disse, e sua consciência a forçou a acrescentar, “obrigada”.
“Nicky”, ele disse com uma voz mais alta, “Nós iremos mais rápido, então se segure com força”.
Lua ouviu um consentimento abafado de Nicky. Ele não tinha soado preocupado. Entretanto, quando o cavalo alargou seus passos, ela fechou os olhos e se agarrou com bastante força, tentando não imaginar os cascos batendo em sua mente, concentrando-se no homem que a segurava com muita firmeza, embora o resto do mundo estivesse saltando de cima a baixo…

“Então, aqui estamos”, a voz profunda disse em uma orelha dela alguns minutos depois. “Você está acordada?”.
Lua abriu os olhos e o encarou. “Acordada?”, ela exclamou incrédula. “Claro que estou acordada!”.
“Sério?”, ela viu um flash de dentes brancos enquanto ele sorria amplamente. Ela girou a cabeça para ver onde era “aqui”.
Era uma casa sólida, construída de pedra e com três armazéns, com jogo de janelas de trapeira em um telhado de ardósia. Uma única nuvem de fumaça se espiralava preguiçosamente de uma das várias chaminés.
Eles seguiram sob um arco de pedra decorativa em um pátio feito de pedras. Um cachorro preto grande veio correndo latindo mas seus latidos viraram abanadas de rabo de prazer mudo ao reconhecer seu dono.
“Onde nós estamos?”, ela exigiu saber, fria. “Eu pensei que… aqui não é Lulworth”.
“Eu não disse que levaria vocês para Lulworth. É muito longe para ir em uma noite como essa e mesmo Trojan tem seus limites”.
“Então onde—”
“Bem-vindos a minha casa”, ele disse.

Continua...


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